A forte oposição das entidades e movimentos sociais filopetistas ao corte de despesas necessário ao ajuste fiscal faz parte do preço que o governo Dilma e todo o País estão pagando pela irresponsabilidade do populismo lulopetista, que desde sempre vende a ilusão de que num governo “popular” comprometido com o combate às injustiças sociais – a síntese da hoje desmoralizada proposta do PT – sempre há de haver dinheiro público para patrocinar as causas sociais.
Estimulados pela retórica do PT, esses movimentos sociais se sentem à vontade para partir do princípio antissocial do “farinha pouca meu pirão primeiro”, segundo o qual podem até admitir que num momento de dificuldades a austeridade se imponha, desde que aplicada no terreiro do vizinho.
Várias organizações sociais alinhadas com o PT, ao mesmo tempo que proclamam opor-se ao “golpe” que significaria o eventual afastamento da presidente da República, cobram firmemente de Dilma Rousseff a imunidade dos programas sociais do governo aos cortes de despesas em discussão para equilibrar o orçamento de 2016. Em resolução divulgada no sábado, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), comandado pelo carbonário João Pedro Stédile, foi categórico:
“Reconhecemos a existência de uma crise econômica mundial (sic), mas não admitimos que trabalhadoras e trabalhadores paguem esta conta. Somos contra o ajuste fiscal e consideramos que o governo está implementando medidas de ajuste neoliberal, que ferem direitos dos trabalhadores e cortam investimentos sociais.
Exigimos que a presidente implemente o programa que a elegeu”. Stédile finge acreditar no que Dilma prometeu na campanha eleitoral.
Por sua vez, o coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), Guilherme Boulos, foi ameaçador em declarações ao Estado: “Se prevalecer no governo essa posição de ampliar a crise social para solucionar a crise fiscal, o MTST vai para o enfrentamento”. O que sugere que em breve os “exércitos” de Stédile e Boulos poderão estar marchando juntos contra o governo.
Na última quinta-feira, Dilma recebeu no Planalto líderes de movimentos pró-moradias populares, que após o encontro se manifestaram por intermédio do petista Raimundo Bonfim, coordenador-geral da Central de Movimentos Populares: “Dissemos à presidente que não aceitamos cortes (no Minha Casa, Minha Vida). Ela prometeu preservar o programa, mas queremos ver isso na prática”.
A intransigência dos movimentos ditos populares em relação aos cortes de despesas orçamentárias que afetem programas sociais tem feito Dilma Rousseff hesitar no trato dessa questão específica, como ficou claro na reunião realizada domingo com ministros e técnicos do governo para definir um corte de pelo menos R$ 20 bilhões nas despesas do governo previstas para 2016.
É compreensível e elogiável a preocupação da chefe do governo em minimizar os prejuízos para os programas sociais no ajuste fiscal, mas a responsabilidade do cargo que ocupa impõe a Dilma o dever de não se deixar transformar em refém de movimentos que, atados ao sectarismo ideológico ou à pura demagogia populista, não querem entender a extensão e a gravidade da crise econômica em que o País se afunda e agem como se fosse possível, e justo, excluir aqueles que pretendem representar dos efeitos inevitavelmente indesejáveis que a hora da austeridade impõe a todos os brasileiros.
Lula, Dilma e o PT são os principais responsáveis por uma crise que reflete a incompetência e a irresponsabilidade de seus governos que, obcecados por um projeto de poder, descuidaram dos fundamentos de uma economia saudável e, consequentemente, da sustentabilidade de seus programas sociais. Agora, cabe aos responsáveis pelo caos administrar a contradição que significa o governo não poder contar com o apoio de seu próprio partido e dos movimentos sociais que têm garantido suas vitórias eleitorais para encaminhar, com um mínimo de racionalidade, as medidas necessárias para tirar o País da crise econômica, a partir do ajuste de suas contas.
Essa contradição aparentemente insanável reforça a tendência que se acentua a cada dia de se caminhar para uma solução política do impasse por meio da medida constitucional extrema do afastamento da presidente. Ou de sua renúncia.
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