sexta-feira, 20 de maio de 2016

Maior no Nordeste, desemprego cresce e já supera 15% na Bahia

Por Robson Sales e Estevão Taiar - Valor Econômico

RIO E DE SÃO PAULO - A situação fiscal do governo, que obrigou a cortes de investimentos, repasses e transferências, que contribuíam para impulsionar o crescimento econômico do Nordeste, pode ter sido a principal causa para a alta recorde de 33,7% no número de desocupados na região no primeiro trimestre, na comparação com o início do ano passado, segundo dados da Pnad Contínua, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A região tem 3,2 milhões de pessoas na fila em busca de trabalho, cerca de 800 mil a mais que em igual período do ano passado. A taxa de desocupação na região chegou a 12,8% no primeiro trimestre, a maior entre todas as cinco regiões pesquisadas.


No período de crescimento da economia brasileira, destacou o professor de economia da Universidade Presbiteriana Mackenzie Pedro Raffy Vartanian, o Nordeste teve um crescimento superior às outras regiões, impulsionado principalmente por investimentos públicos. "Com a crise, a tendência é que o Nordeste sinta ainda mais os efeitos no mercado de trabalho do que as outras regiões", completou.

Num cenário de redução dos gastos públicos, o Nordeste deve ser também a região que entrará por último na retomada, avaliou Vartanian. "O Nordeste terá que reencontrar um caminho menos dependente do setor público, talvez com investimento privado", afirmou o economista.

O IBGE já havia publicado no dia 29 de abril a taxa média de desemprego para o trimestre, que ficou em 10,9%, mas detalhou ontem os dados por regiões e Estados.

A Bahia puxou negativamente a taxa do Nordeste e se tornou também o Estado com o maior desemprego do país. Entre o último trimestre do ano passado e o início de 2016, a taxa cresceu na Bahia de 12,2% para 15,5% e levou o Estado a ultrapassar o Amapá, que nesse mesmo período viu o desemprego crescer de 12,7% para 14,3%. O número nesses Estados ficou, inclusive, acima dos 14% que o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, estima que o desemprego pode chegar até o final do ano "se nada for feito".

Os Estados do Nordeste sofrem mais porque, em média, têm um mercado de trabalho mais informal e menos qualificado que outras regiões do país. "Em geral, o desemprego atinge pessoas menos produtivas, áreas economicamente menos dinâmicas, com níveis educacionais mais baixos. Apesar de ter conseguido ganhos grandes, ainda estão num patamar abaixo dos Estados do Sul", reforçou o economista da Fundação Getulio Vargas (FGV), Bruno Ottoni.

O desemprego bateu recorde no Nordeste, mas foi no Sudeste que a taxa de desocupação mais cresceu entre o primeiro trimestre do ano passado e igual período de 2016, mostrou o IBGE. A taxa de desemprego nessa região subiu 3,4 pontos percentuais em um ano, passando de 8% para 11,4%. Reflexo da crise na indústria, afirmou Pedro Vartanian, da Mackenzie. O Sudeste representa 44,5% de todo o mercado de trabalho brasileiro e o Nordeste, 24,8%.

Para Luiz Fernando Castelli, economista da GO Associados, o fato de o desemprego ter batido recorde em 21 das 27 unidades da federação neste primeiro trimestre mostra a precariedade atual do mercado de trabalho. "É uma crise difusa, essa é a mensagem", disse.

Os dados da Pnad Contínua indicam que o atual cenário tem elevado a concentração de renda entre as regiões. Em 2012, início da pesquisa, o Norte e o Nordeste, juntos, tinham 32,7% da massa de rendimento que Sul e Sudeste recebiam naquele ano. Em 2016, essa proporção caiu para 30,3%. Isso ocorre, principalmente, pela maior informalidade do mercado de trabalho no Norte e no Nordeste.

A massa de rendimento médio real habitual dos ocupados (R$ R$ 173,5 bilhões de reais para o país com um todo) ficou em R$ 90,6 bilhões da região Sudeste, R$ 29,5 bilhões no Sul, R$ 27,6 bilhões no Nordeste, R$ 15,7 bilhões no Centro-Oeste e R$ 9,8 bilhões no Norte.


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