Por Andrea Jubé – Valor Econômico
BRASÍLIA - Preocupado em reorganizar a base aliada e assegurar a maioria para a votação das duas principais matérias do governo neste semestre - a proposta de emenda constitucional (PEC) que fixa um teto para os gastos públicos e a reforma da Previdência Social -, o presidente Michel Temer vai se reunir, pessoalmente, com cada bancada para explicar os projetos e pedir apoio à votação.
Em outra frente, Temer autorizou a emissão de uma circular aos ministros pedindo que não levem os deputados em viagens nas datas de votações relevantes para o governo nem os recebam nos ministérios nos horários dessas votações.
Temer retorna hoje da viagem à China e gostaria de começar o quanto antes essas conversas, mas não haverá deputados em Brasília após o feriado de 7 de setembro. Por isso, segundo assessores, a rodada de reuniões começará no dia 12. Primeiro, Temer se reunirá com os líderes partidários, que serão incumbidos de convocar as bancadas para os encontros com o presidente.
Temer quer a PEC do teto dos gastos públicos aprovada, até dezembro, nas duas Casas legislativas, e a reforma da Previdência votada, pelo menos, no primeiro turno na Câmara até o fim do ano. É com essas metas em mente que Temer autorizou o ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, a emitir uma circular aos demais 23 ministros com restrições de datas para viagens com parlamentares e agendamentos de audiências a deputados e senadores. O objetivo é garantir o quórum nas votações.
De acordo com esta circular, os ministros não poderão levar os deputados ou senadores de seus partidos em viagens para inaugurações ou atividades afins de suas pastas nas terças e quartas-feiras, quando os plenários da Câmara e do Senado se reúnem para votar projetos.
O mesmo documento recomenda que os ministros não agendem audiências a deputados ou senadores após as 16 horas, ou seja, a partir da hora em que os plenários das duas Casas começam a votar.
"A base não está desarticulada, a base está desorganizada", afirmou ao Valor um assessor de Temer. Ele apontou um exemplo típico de desorganização, que irritou o Palácio do Planalto.
Na reta final da votação do projeto de renegociação da dívida dos Estados com a União, no dia 9 de agosto com a Câmara, o governo enfrentou dificuldade em reunir quórum suficiente para enfrentar a obstrução da oposição.
Auxiliares de Temer passaram a telefonar para os ministros, pedindo que interviessem e ajudassem os líderes a reunir os deputados em Brasília. Era uma terça-feira e as bancadas de muitas siglas aliadas estavam esvaziadas. Estes assessores se surpreenderam ao descobrir que a bancada do PP estava com seis deputados a menos porque o grupo, em plena terça-feira, acompanhava o ministro da Agricultura, Blairo Maggi - indicado pela legenda -, em uma viagem ao Rio Grande do Sul e a Santa Catarina para visita aos produtores de maçã. "É como se o governo sabotasse o próprio governo", desabafa este auxiliar.
Na China, Temer afirmou que está "permanentemente" discutindo a relação com a base. "O que eu mais faço é discutir a relação, nós vamos discutir o tempo todo, faço isso permanentemente", afirmou.
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