Por Andrea Jubé | Valor Econômico
BRASÍLIA - Para marcar o primeiro ano de sua gestão, em 12 de maio - data em que assumiu interinamente o governo, em 2016 -, o presidente Michel Temer gravará um pronunciamento, para rádio e televisão, e divulgará realizações deste período, como o início da retomada da economia, embora o desemprego persista. A avaliação interna é de que os piores prognósticos não se confirmaram, sendo que os desdobramentos da Operação Lava-Jato não contaminarão a votação das reformas no Congresso.
Em passagem recente pelo Planalto, um importante representante do PIB nacional resumiu, a um interlocutor de Temer, a comparação entre os últimos dias do governo Dilma Rousseff e a atual gestão. Segundo este empresário, na avaliação do setor produtivo, há um ano não havia perspectiva de que o Brasil voltaria a crescer. Um ano depois, afirma que agora o país voltou a ter uma direção.
O ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, aponta que, apesar da crise política, a inflação caminha para atingir o centro da meta no fim do ano e os juros podem chegar a um dígito. Ressalta, contudo, que aprovar a reforma da Previdência "é fundamental para consolidar o reajuste fiscal, iniciado com o teto dos gastos".
Padilha coordena o relatório de gestão, a partir dos dados que cada ministério está enviando para a Casa Civil, e que será apresentado a Temer na próxima semana. O documento apontará as realizações do governo a partir dos quatro eixos de gestão iniciais: econômico, fundado no reajuste fiscal, social, de infraestrutura (concessões e retomada de investimentos) e de modernização do Estado.
Há um ano, o objetivo era alcançar o reajuste fiscal, com as reformas trabalhista e previdenciária e o teto de gastos, tendo como meta a retomada do pleno emprego e a reconquista do grau de investimento. O governo avançou nesta direção, mas o desemprego aumentou. Quando Temer assumiu, calculava-se 12 milhões de desempregados - um ano depois, esse número subiu para 14 milhões. "Falta voltarmos a gerar empregos, o que só deve ocorrer no final do segundo semestre, isto será o corolário dessa gestão", diz Padilha.
O ministro destaca, entretanto, as vitórias no Congresso. "Aprovamos todos os nossos projetos", ressalta, a começar da emenda constitucional que fixou um limite para os gastos públicos, a aprovação na Câmara da reforma trabalhista, e da previdenciária na comissão especial, além da reforma do Ensino Médio, item igualmente polêmico.
Padilha tem afirmado que o governo tem uma base de 411 deputados, sendo que 335 votam sempre com o governo. Contudo, a meta de obter 320 votos "seguros" favoráveis à reforma da Previdência não foi alcançada.
Em outra frente, o pronunciamento é uma aposta alta da equipe de comunicação de Temer, coordenada pelo ministro Moreira Franco, da Secretaria-Geral. Será exibido na sexta-feira, em rede nacional de rádio e televisão, com potencial para atingir dezenas de milhões de brasileiros.
É uma ação estratégica, porque visa a alcançar um contingente bem superior ao público das redes sociais, onde têm circulado com frequência vídeos gravados por Temer sobre ações do governo. O presidente, além da alta rejeição, é desconhecido. Uma pesquisa do Ibope encomendada pela Presidência da República mostrou que 29% dos brasileiros não sabem quem é Michel Temer e que ele é o atual presidente.
O texto tem a supervisão de Moreira Franco e redação do publicitário Elsinho Mouco e do secretário de Imprensa, Márcio de Freitas. Será a terceira vez que Temer se dirige diretamente aos brasileiros pela televisão, o que nos últimos anos de crise política, tem provocado "panelaços".
Auxiliares presidenciais admitem o receio de que os insatisfeitos saiam às janelas com as panelas em mãos, diante da baixa popularidade de Temer e da alta rejeição à reforma da Previdência. "Mas um presidente não pode governar com medo e precisa falar à população", observa um assessor.
Em seu primeiro pronunciamento, em 31 de agosto, quando foi efetivado no cargo, Temer já havia anunciado que mexeria na Previdência. "Sem reforma, em poucos anos o governo não terá como pagar os aposentados", avisou.
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