PT tenta obter ao menos neutralidade de socialistas para não dar mais espaço a Ciro e manter hegemonia
Catarina Alencastro | O Globo
BRASÍLIA - A desistência do bloco de cinco partidos do centrão de apoiar a candidatura do pedetista Ciro Gomes empurrou a esquerda para uma disputa fratricida em torno do apoio do PSB. Além de Ciro, o PT faz um cerco agressivo aos pessebistas. O partido sabe que não pode contar com o PSB para uma aliança formal em torno da candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso há mais de três meses em Curitiba, e seu eventual substituto. Mas não desiste de tentar impedir uma adesão oficial do partido à campanha do PDT, para manter a hegemonia na esquerda. Sem o centrão, Ciro e o candidato do PT passam definitivamente a concorrer no mesmo campo por uma vaga no segundo turno.
Enquanto o PT se concentra em conquistar a neutralidade do PSB, o PDT mantém conversas diárias com caciques da sigla para não sofrer mais uma derrota. Para o PT, o ganho seria simbólico, uma demonstração de que, mesmo com seu maior líder preso, continua a ser um grande ator político.
PERNAMBUCO É PEÇA-CHAVE
Para o PDT, a aliança representaria um salto importante no tempo de TV. Além disso, Ciro ganharia entrada no segundo maior colégio eleitoral do país, Minas Gerais, tendo como vice o ex-prefeito de Belo Horizonte Márcio Lacerda. O nome dele está acertado no caso de confirmação do apoio do PSB a Ciro.
O presidente do PSB, Carlos Siqueira, que nutre preferência não declarada a Ciro, tem se limitado a dizer que é contra a neutralidade do partido. A pressão sobre Siqueira é grande dos dois lados. O presidente do PDT, Carlos Lupi, diz que conversa com ele todos os dias. E a presidente do PT, Gleisi Hoffman, encontrou-se com ele quase uma dezena de vezes nas últimas semanas.
Gleisi e Siqueira não falam, porém, a mesma língua. A senadora é aguerrida e inflamada. Siqueira, manso. Outro dia, quando debatiam o texto da frente ampla de esquerda em defesa da democracia, Gleisi insistia numa crítica ao Judiciário, mas Siqueira foi contra.
— O Siqueira é quase um monge. E a Gleisi, num debate, se levantou da mesa falando alto e xingando o Judiciário. Perplexo, ele se levantou e foi embora — disse um petista.
O PT centra todas as suas fichas no principal bunker de resistência no PSB ao apoio a Ciro: Pernambuco. Gleisi esteve na semana passada com o governador Paulo Câmara, fervoroso defensor de Lula. Os petistas jogam com o temor de Câmara de perder a reeleição para Marília Arraes, a vereadora de Recife que está praticamente empatada com ele nas pesquisas de intenção de votos. Além disso, Câmara comanda um estado onde Lula detém mais de 60% da preferência eleitoral.
— Se não tiver o PSB, o PT vai investir tudo na campanha de Marília. Paulo Câmara já sentiu que ela tem um potencial enorme no estado — disse um petista de Pernambuco.
Além de Pernambuco ter o maior diretório, Paulo Câmara é vice-presidente do PSB. Sua posição tem peso, mas o restante da cúpula partidária prefere Ciro. O ex-prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda, e o governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg, defendem essa posição. A decisão será tomada na reunião do diretório nacional no dia 30.
— PDT e PSB juntos dão à centro-esquerda um tamanho importante, sem ter mais o PT, que ficou estigmatizado por todos os erros cometidos, como referência. Seríamos uma visão mais moderna e progressista — disse o presidente da Fundação João Mangabeira, Renato Casagrande, outro defensor da adesão a Ciro.
Além do PSB, outro partido de esquerda que vem sendo cortejado por PT e PDT é o PCdoB, que mantém a candidatura de Manuela D'Ávila para o Palácio do Planalto. Num prazo de 48h, na semana passada, a presidente do partido foi procurada por Gleisi e Ciro.
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