- Folha de S. Paulo
O Brasil estaria em outro lugar se Adélio Bispo tivesse tido sucesso em seu intento macabro?
Há um ano, Jair Bolsonaro era esfaqueado por Adélio Bispo, num atentado que quase custou a vida ao então candidato à Presidência. Se Bispo tivesse tido sucesso em seu intento macabro, o Brasil estaria em outro lugar? Líderes fazem diferença?
Essa é uma das mais pungentes polêmicas da historiografia. De um lado estão aqueles que, como Thomas Carlyle, afirmam que a História nada mais é do que a história das decisões e atos de grandes homens. Do outro, estão autores mais deterministas, notadamente os marxistas, para os quais líderes têm pouca ou nenhuma relevância, já que processos econômicos, sociais e políticos prevalecem sobre ações individuais.
Até o início deste século, a controvérsia era objetivamente indecidível. Mas aí veio uma turma que acha que é possível trazer um pouco de matemática à historiografia e começou a investigar experimentos naturais, isto é, a comparar eventos semelhantes num número razoável de países e épocas para extrair, se não uma resposta definitiva, ao menos uma tendência que valha sob certas condições.
Foi isso o que fizeram em dois estudos Benjamin Jones (Northwestern University) e Benjamin Olken (MIT). No primeiro, a dupla mediu o que acontecia com a economia de um país quando seu líder morria no cargo devido a causas naturais ou acidentes. A partir da análise de 57 casos registrados entre 1945 e 2000, concluiu que o crescimento econômico é afetado pelo óbito.
No segundo trabalho, os autores compararam o que acontecia com um país quando seu líder era assassinado e quando ele escapava de um atentado. De uma base de 298 tentativas entre 1875 e 2005, verificou que os ataques exitosos (59) tiveram mais impacto institucional do que os fracassados (239).
Se as conclusões dos Benjamins estão certas, a teoria do grande homem não pode ser descartada, e os médicos provavelmente fizeram história quando salvaram Jair Bolsonaro.
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