Ele
não tomava medidas genocidas, não agredia as instituições, não mentia para a
nação
"O
Sr. Presidente da República acorda invariavelmente às 7 da manhã e, vestido de
seu rôbe de chambre, tendo à cabeça uma touca de seda preta, dirige-se para o
banheiro, onde toma banho morno. Depois do banho, S. Exa. bebe um copo de leite
e, pouco depois, serve-se de café, que deve ser forte, rejeitando-o quando
assim não acontece. Em seguida, faz sua toalete e passa a ler os jornais,
dirigindo-se depois para a sala particular de sua Exma. esposa, onde conversa
algum tempo, sempre com aquele modo frio, seco e pouco expansivo. Às 11 horas,
almoça e desce para a sala de despachos no palácio, onde examina os papéis e as
questões que tem de decidir.
"Durante
o dia conserva-se na sala de despachos, em trabalho com os ministros que o
procuram, ou vem à sala de audiências conferenciar com alguma pessoa sobre
assunto importante. Nas terças-feiras dá audiências públicas no Salão Jardim,
de 1 às 2 da tarde. À 1h30, toma S. Exa. um copo de leite e, às 2, uma xícara
de café, continuando na sala de despachos até às 6 da tarde, quando não há
muito serviço.
"Dirige-se
a essa hora pela arcada interna do palácio para a sala de sua Exma. esposa e
daí para a de jantar. É excessivamente sóbrio e não usa de vinhos. Depois do
jantar, conversa com a família e recebe as pessoas de sua amizade, ficando às
vezes até meia-noite. Nunca altera a voz e até com certa dificuldade se faz
ouvir. À hora de dormir, toma um banho morno e, em seguida, um copo de leite.
Etc. etc.".
O
que se leu acima é parte de um texto de Ernesto Senna, o primeiro repórter
brasileiro, publicado no Jornal do Comércio, sobre um dia na vida do presidente
Prudente de Moraes, que governou de 1894 a 1898.
Grandes
tempos. O presidente da então jovem República não tomava medidas genocidas, não
agredia as instituições, não protegia
filhos corruptos, não mentia para
a nação. Não fazia nada. Melhor assim.
*Ruy Castro, jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues.
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