sexta-feira, 27 de maio de 2022

Bruno Boghossian: Do salão para a cozinha

Folha de S. Paulo

Presidente pediu apoio em dois encontros para reduzir vantagem de Lula com eleitor mais pobre

Durante uma feijoada num apartamento do Morumbi, há duas semanas, um convidado perguntou a Jair Bolsonaro como os empresários poderiam ajudar sua campanha à reeleição. O presidente chamou os funcionários da cozinha, falou sobre os perigos de uma vitória da esquerda em outubro e pediu aos endinheirados que fizessem o mesmo com outros trabalhadores.

Quem contou a história foi o próprio Bolsonaro. Dias depois daquele almoço, ele foi a um evento com donos de supermercados e sugeriu que eles falassem com "os mais humildes" em suas lojas. "É reunir pelo menos uma vez por semana com o pessoal no canto e dar a palavra: 'Onde está apertando o calo de cada um de vocês?'. Para ganhar a confiança."

Bolsonaro sabe onde seu calo aperta nesta eleição. Quando pediu apoio dos mais ricos na feijoada do Morumbi, o presidente se referiu aos trabalhadores da cozinha como um "pessoal que ganha, em média, R$ 2.000 por mês", segmento em que ele enfrenta uma desvantagem arrasadora.

Os últimos números do Datafolha mostram que Lula supera Bolsonaro no primeiro turno por 56% a 20% entre os eleitores mais pobres. No segundo turno, a margem é ainda maior: 66% a 25% a favor do petista.

A turma do andar de cima, em contraste, já deu demonstrações reiteradas de simpatia pelo presidente. Mas o grupo representa só uma fração do eleitorado brasileiro. Bolsonaro espera, então, que os mais ricos exerçam alguma influência sobre o segmento de baixa renda —que concentra metade dos votos do país.

O presidente quer os empresários como sócios. Além de participarem de campanhas de arrecadação, eles devem falar com seus funcionários sobre os perigos do comunismo para convencê-los a votar contra o PT.

Bolsonaro parece interessado em reproduzir o modelo Havan. Em 2018, o empresário Luciano Hang fez pressão para que trabalhadores votassem no capitão e insinuou que faria demissões em caso de vitória da esquerda. A ameaça lhe rendeu uma condenação na Justiça do Trabalho.

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

A elite econômica do Brasil tem o presidente que merece,cruzes!