O Globo
Os algoritmos incentivam a desinformação e
os cancelamentos. Os atores políticos sem pudores de usar esses recursos
crescem
Na quarta-feira de manhã, Elon Musk entrou
na sede do Twitter carregando
uma pia de louça nas mãos.
Let that sink in — escreveu.
Literalmente, “deixe esta pia entrar” —
embora, em inglês, a frase também possa ser lida como “deixa essa ficha cair”.
Enquanto publicava o vídeo na própria plataforma, modificou sua autodescrição:
Chief Twit. Mais ou menos ao mesmo tempo, os funcionários da empresa receberam
um e-mail geral.
— Elon Musk está circulando pelo prédio,
aproveitem para dizer “oi”.
Pela cabeça de muita gente certamente
passava outro recado — que, se Musk fosse comprar mesmo a companhia, cortaria
75% da mão de obra. (Ele nega.)
Pois é: domingo temos a eleição mais importante da História brasileira desde que Tancredo Neves foi escolhido pelo Colégio Eleitoral, lá se vão quase 40 anos. E cá o colunista está falando de Elon Musk comprando o Twitter. Ocorre que o foco habitual deste espaço é o encontro de tecnologia, sociedade e política. Ocorre que a maneira como a informação que circula entre nós foi corrompida pelas redes sociais é diretamente responsável pela eleição de tipos como Donald Trump e Jair Bolsonaro. O assunto é inevitável e está no centro do drama que continuaremos a enfrentar, mesmo que o único candidato democrata confirme sua vitória no domingo.
Musk já age como dono do Twitter. Ainda
assim, ao menos até o fechamento desta coluna, a aquisição não estava
confirmada. A toda hora o Vale do Silício anuncia que alguma startup abriu seu
capital, fez um IPO na Bolsa, levantou alguns bilhões. O caminho inverso é bem
mais raro. Musk está pegando uma empresa pública e fechando o capital.
Comprando as ações vendidas na Bolsa e tornando-a um negócio privado. No início
da semana, manteve uma série de reuniões com bancos para completar o valor. Tem
prazo estabelecido por juiz: fechar o negócio até esta sexta-feira. Se não
pagar o preço com que havia se comprometido em abril, será levado à Corte,
obrigado a falar sob juramento coisas que não deseja dizer em público e, ao
fim, será forçado a cumprir o compromisso. A hipótese de que a compra não seja
fechada, portanto, é remota.
A vantagem de um negócio privado é que a
regulamentação é bem mais leve. O CEO não tem de prestar contas a cada quatro
meses a respeito dos lucros, guinadas estratégicas violentas se tornam
possíveis. E este negócio, das redes sociais, precisa de uma guinada radical.
Ele tem de ser reinventado. Musk, numa carta dirigida aos anunciantes do
Twitter na quinta, afirmou que imagina a plataforma como uma praça pública
global onde o diálogo seja possível, onde os extremistas não tenham voz.
As redes já são uma praça pública global. O
problema é que, nesse espaço comum, não é o diálogo que os algoritmos
incentivam. É a desinformação e são os cancelamentos. Os atores políticos que
não têm pudor de usar esses recursos crescem. Os outros perdem a voz. Não é
surpresa que o Brasil tenha elegido neste ano um Congresso onde o pior da
direita venceu, e o centro desapareceu. E esta não é só uma história
brasileira.
Musk também vem recebendo pressão de gente
bem próxima para trazer de volta à plataforma vozes banidas por radicalismo ou
desinformação. O problema, porém, não é o que é dito no Twitter. É o que o
Twitter — ou o Face, ou o Insta, ou o YouTube, ou o TikTok — escolhe ampliar.
Um antissemita como Kanye West falando para si mesmo e mais cinco não causa
dano. Vira problema quando um app decide que sua voz deve chegar a milhões
todos os dias.
Domingo temos eleições. Não é a única decisão
que definirá o futuro de nossa democracia.
2 comentários:
Quando o colunista escreve "tipos como Donald Trump e Jair Bolsonaro", ele está querendo dizer:
- canalhas como Trump e o miliciano mentiroso?
- criminosos como Trump e o GENOCIDA?
- mentirosos como Trump e o Minto?
- tarados e assediadores como Trump e Jair Bolsonaro?
- incompetentes como Trump e Jair Pedalada?
- golpistas como Trump e o capitão das rachadinhas?
- estelionatários como Trump e Jair Bolsonaro?
- antidemocratas como Trump e Bolsonaro?
Trump e Roberto Jefferson pedem voto em Bolsonaro... Preciso dizer mais alguma coisa?
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