Folha de S. Paulo
Eleito senador, o general quer liderar a
direita no Brasil
Nos dias de reclusão no Alvorada (ou de
conspiração em silêncio?), Bolsonaro notou que Hamilton Mourão está vivo, podendo
delegar a ele tarefas protocolares, como receber cartas credenciais de
embaixadores estrangeiros que vão atuar no governo Lula 3. Embora seja um
protagonismo de café servido frio, é o tipo de consideração que o general não
desfrutou como vice-presidente eleito — pois foi logo escanteado.
Um livro que acaba de sair — "Poder Camuflado", em que o jornalista Fabio Victor desnuda a caserna em suas atitudes ideológicas e corporativas, indo do fim da ditadura à aliança com o capitão que virou presidente — mostra que Mourão e Bolsonaro debateram-se numa espécie de guerra fria. Ambos em luta para provar quem merecia ser o herdeiro do coronel-torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra.
Não há afinidade na dupla de fardados que
optou pela política; só disputa por influência, prestígio e poder. O episódio
do convite para que Mourão participasse da aventura eleitoral de 2018 é
ilustrativo. Conta Fabio Victor: "Em 5 de agosto, último dia para a
definição das chapas, o celular do general tocou às seis e meia da manhã. Era
Bolsonaro. ‘Ele me disse: é você, tá okay?, e eu respondi: Tô pronto, vamos lá,
pô’. A conversa entre os dois não durou um minuto".
Em sua cuidadosa investigação, o repórter ouviu
Maria Joseíta Brilhante Ustra, viúva do coronel reabilitado e, mais que isso,
transformado em herói pelo bolsonarismo: "O sonho de Carlos Alberto era
ter um filho. Cansava de dizer sobre Mourão: ‘Esse menino podia ser meu filho.
Esse menino vai longe’".
Mourão foi eleito senador pelo Rio Grande do Sul, com mais de
2,5 milhões de votos. Derrotado, Bolsonaro tem destino incerto (talvez a
cadeia). Mais do que responder cartas, o general quer liderar a direita no
Brasil. Daí seus ataques ao STF e o apoio aos golpistas delirantes, molhados de
chuva e violentos.
2 comentários:
"Ambos em luta para provar quem merecia ser o herdeiro do coronel-torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra."
Q disputa detestável mas bem representativa dos dois detestáveis.
Brigar pra ser herdeiro do torturador... Em que mundo estamos? Que tipo de "gente" nos governou nestes 4 anos??
Postar um comentário