quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

Adriana Fernandes - O milagre da multiplicação

O Estado de S. Paulo

Os impasses também se multiplicam, porque ninguém quer assumir um ministério esvaziado

Só o milagre da multiplicação para resolver a disputa política por cargos entre os ministeriáveis da frente ampla que Lula construiu para ganhar as eleições.

Soma-se a essa guerra por cargos a negociação que o governo já teve e está tendo de fazer para conseguir aprovar a PEC da Transição. Para cada impasse na acomodação das forças políticas na formação do novo governo, a solução sugerida é dividir o ministério.

O superministério da Economia deve ser dividido em quatro (Fazenda, Indústria, Planejamento e Gestão), o que pode abrir espaço para mais um petista na equipe econômica. O próprio ministro indicado para a Fazenda, Fernando Haddad, atuou para que ocorresse essa divisão.

O ministério da Infraestrutura é alvo da cobiça e se fala até mesmo em divisão de transportes, aeroportos e portos. A possibilidade de divisão do Ministério da Educação em duas pastas também foi cogitada. Um ministério para a educação básica e outro para o ensino superior.

Ao União Brasil foram prometidos os ministérios de Minas e Energia e de Desenvolvimento Regional. O senador Davi Alcolumbre e o deputado Elmar Nascimento disputam as duas pastas. Com isso, o Desenvolvimento pode ser fatiado em Integração e Cidades. A Codevasf, objeto de desejo do Centrão, ficaria em Cidades, a pasta que o União quer.

O Ministério da Agricultura também corre o risco de não passar ileso pelo processo da multiplicação e se fala em ser fatiado em agricultura, pesca e desenvolvimento agrário.

O Ministério da Saúde está sendo cobiçado pela tropa do presidente da Câmara, Arthur Lira, em troca da aprovação da PEC sem grande desidratação – apenas a redução do prazo de validade da expansão de gastos de dois para um ano e a retirada dos “penduricalhos” que aumentam as exceções ao teto.

O PSD quer que os dois ministérios virem, na prática, três com a contabilização da indicação do senador Alexandre Silveira (PSD-MG) para a cota pessoal de Lula. Ele foi relator da PEC da Transição no Senado. O mesmo vale para Simone Tebet no MDB, que disputa o Ministério

do Desenvolvimento Social. Ela vai perdendo força a cada dia nesse xadrez político.

Nessa multiplicação dos ministérios, o impasse acontece porque ninguém quer assumir um ministério esvaziado.

A pressão por novas vagas será consequência natural dessa inflação de ministérios. Imagina Haddad enfrentar a pressão por gastos com uma Esplanada tão grande. Pior é o risco de os novos ministros quererem inventar a roda criando políticas que já foram experimentadas sem sucesso.

 

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

Simone Tebet merece um cargo de honra,mas pelo andar da carruagem...