Por Nelson Rosas
Falamos na Análise passada que a economia
do país está finalmente reagindo. Falamos também sobre as razões deste
crescimento. Agora cabe perguntar, diante da promessa do Lula: será que este
crescimento ficará acima dos 2%?
Transcrevo aqui parte da Análise do
Professor Lucas Milanez, publicada no Blog do Progeb, sobre os ciclos
econômicos.
“Como principal pilar das nossas análises
de conjuntura, admitimos que as economias capitalistas se desenvolvem através
de movimentos alternados de maior e menor intensidade de crescimento. Em outras
palavras, o crescimento econômico passa por uma espécie de montanha russa, hora
subindo, hora descendo.
Isso não é mera opinião. Há vários
economistas, de diferentes vertentes, que comprovaram estatisticamente a
existência desse movimento repetitivo, que ocorre desde o começo do século XIX.
A regularidade e periodicidade das oscilações é tal que o fenômeno ganhou até
um nome: ciclo econômico.
O ciclo econômico é composto por quatro fases distintas, que se repetem de forma sequencial: 1) crise, quando o crescimento econômico começa a desacelerar de forma generalizada e consistente; 2) depressão (ou fundo do poço), quando o crescimento atinge o patamar mais baixo (em alguns casos há um decrescimento da economia) e há um processo generalizado de destruição de capitais (falências, fechamento de fábricas, aumento do desemprego, etc.); 3) reanimação, quando a economia volta a crescer, pois os capitais sobreviventes se reacomodam e se expandem nos espaços deixados no mercado; e 4) auge, quando o crescimento atinge o ponto máximo, devido à euforia com os ganhos de renda e aos altos investimentos. Depois disso, ocorre uma nova crise. Dentre outros fatores, a desaceleração chega como resultado do potencial produtivo excessivo criado com a retomada da economia.”
Este movimento é afetado pela política
econômica que pode deformá-lo acelerando cada fase ou retardando e mesmo
alterando sua intensidade. Não pode, entretanto, abolir o movimento. Nossas
Análises baseiam-se nesta teoria e é por isto que, apesar de desejar muito o
sucesso do governo, não podemos fugir da realidade. O que ocorreu é que o longo
período de desaceleração que atravessamos, agravado pela política econômica do
governo passado, causou uma grande destruição na economia, o que sempre
acontece, e é uma característica das fases de crise e depressão. Este é o
legado maldito deixado pela incompetência do desgoverno Bolsonaro. Pior do que
isto foi o desmantelo do aparelho de Estado, o instrumento para se fazer
política econômica. Infelizmente somos obrigados a passar por uma fase de
reestruturação do Estado para poder cuidar da economia e do país. É um precioso
tempo perdido, mas necessário.
No entanto, a destruição causada pelo
tsunami Bolsonaro tem seu lado positivo. Permite uma política econômica capaz
de produzir resultados de recuperação mais rápidos. Mas, o consumo das
famílias, embora esteja sendo estimulado, levará algum tempo para crescer
diante da situação de endividamento dos consumidores. O programa
“Desenrola” será muito útil para melhorar este quadro. A retomada das obras do
Estado também será outra fonte de estímulos. Igual contribuição virá da queda
da inflação, do aumento do salário-mínimo e do bolsa família. A contribuição do
investimento privado, entretanto, será mais lenta. Isto só ocorrerá quando os
estímulos ao consumo tiverem cumprido sua função, o que exige algum tempo. Com
efeito, a Fundação Getúlio Vargas (FGV) estima que o crescimento do consumo das
famílias só será de 0,5% neste ano. Mas o problema não se resume ao consumo das
famílias. Em relação à indústria, a situação também não é das melhores. Em
abril, considerando março, a indústria teve uma contração de -0,6% segundo a
Pesquisa Industrial Mensal (PIM Regional), feita pelo IBGE. Dez dos 15 locais
pesquisados seguiram a média nacional de queda. Dos 25 ramos pesquisados, 16
tiveram recuo.
Com certeza seria de grande ajuda um
aumento da oferta de crédito. No entanto, é neste terreno que teremos de
enfrentar as maiores dificuldades. Enquanto escrevemos estas linhas foi
divulgado o resultado da reunião do Conselho de Política Monetária (Copom),
órgão do Banco Central (BC). A decisão sobre a taxa de juros Selic foi a
esperada: manutenção dos atuais 13,75%, a mais alta taxa de juros do mundo. Muita
razão tem o jornalista Reinaldo Azevedo quando em seu programa o “E da coisa”
afirmou que a diretoria do BC é “Um bando de fanáticos endossados por outros
idiotas que perderam o discurso e agora não sabem o que falar”. Como já
afirmamos em outas análises, o presidente do BC, Bob Fields Neto, continua
servindo aos seus senhores e remando contra as intenções do governo e contra o
crescimento do país. Foi para isto que o Senado aprovou a “independência do
BC”. É preciso garantir a maior lucratividade para os especuladores financeiros.
E o “bando de fanáticos” segue em frente,
não ouvindo os clamores das maiores autoridades do país nem as opiniões de
representantes ilustres do setor produtivo como a carta aberta assinada por 51
membros do Conselho de Desenvolvimento Sustentável, ligado à presidência da
República, entre os quais estão Luiza Trajano, do Magazine Luiza, e Josué
Gomes, presidente da Fiesp.
Enquanto isso a situação internacional
continua turbulenta. O Instituto de Finanças Internacionais (IIF) prevê “um
pouso suave” para as economias dos EUA e a economia global. Na zona do euro o
crescimento seria de 0,6%. A China vem adotando estímulos para conter a
desaceleração em curso. As taxas de juros continuam a crescer, as dívidas dos
países a aumentar, mas os apelos pela guerra e gastos militares se mantêm.
Eis o que temos a destacar na semana que
findou. É preocupante! Podemos afirmar que a economia vai crescer, mas, é
prematuro garantir que este crescimento ultrapassará os 2%. No entanto, o
governo precisa de bons resultados econômicos para garantir sua credibilidade e
enfrentar a matilha de hienas que não se cansa de rosnar e criar todo tipo de
dificuldades à governabilidade.
É grande o desafio!
2 comentários:
No período de gastança com objetivos eleitorais feitas por Bolsonaro a inflação chegou a se aproximar de 11% anualizados e apontando para cima.
Os economistas do COPOM, citados aqui neste artigo como "bando de fanáticos", tiveram o profissionalismo e a coragem de aumentar a taxa de juros que estava em 2% em março|2021 para 13,75% em agosto|2022. Eles aumentaram a taxa de juros para esterilizarem o dinheiro entornado na economia pela gastança e irresponsabilidade de Jair Bolsonaro, e fizeram isso apesar de eles estarem ali no COPOM e no Banco Central por indicação do governo do próprio Bolsonaro.
Como economistas e no papel de agentes públicos Roberto Campos e os outros oito economistas do COPOM foram absolutamente profissionais, fizeram o que tecnicamente era necessário fazer e não politizaram as medidas de suas ações.
Faço uma pergunta aos que vêm agredindo Roberto Campos e nem disfarçam que o que fazem não é análise e sim agressão, ao se referirem ao economista como "Bobs Fields Neto", por exemplo, embora chamem de análise ao que fazem.
■A pergunta que faço aos agressores de Roberto Campos e aos outros atuais nove economistas membros do COPOM é::
▪Quando o COPOM, Roberto Campos Neto à frente, subiu a taxa de juros dos 2% em que estavam em março de 2021 para 13,75% em agosto de 2022, o objetivo de Roberto Campos e dos outros oito economistas do COPOM ao subirem os juros foi boicotar o governo de Jair Bolsonaro para que ele não colhesse o benefício eleitoral de sua gastança fiscal? Ou não foi boicote ao governo Bolsonaro o que eles fizeram ao subie os juros e eles tiveram mesmo que aumentar a SELIC para esterilizar o dinheiro que Bolsonaro estava entornando de forma irresponsaveis na economia?
▪Então, por que é que eles estarem mantendo os juros em 13,75% agora é por fanatismo ou para boicotarem o governo Lula?
Bons economistas estão tendo o entendimento de que se a SELIC for baixada agora, com as condições atuais da nossa economia, há um bom risco de que em alguns meses essa decisão se mostre errada e o COPOM tenha que retomar a alta dos juros e que nesse caso, de baixar os juros agora e ter que voltar a aumentá-los em seguida, isso trará consequências mais graves para a economia e para os que mais sofrem com essas consequências que as de ter paciência agora, ter sangue frio e, exatamente ao contrário daquilo de que são acusados por maus jornalistas, políticos, empresários e economistas, de serem fanáticos, os bons economistas estão com o entendimento de que deve ser aguardado um pouco mais de tempo para que a decisão sobre os juros seja tomada com mais segurança.
Pergunto mais aos que xingam Roberto Campos::
▪Na ponta do lápis, dadas as condições em que a nossa economia se encontrava e ainda se encontra, a SELIC necessária para levar a inflação para a meta seria de 26% se fosse seguido o conceito de ano fiscal que o COPOM sempre adotou.
Roberto Campos sabia que os juros de 26% necessários se fosse seguido o conceito temporal de calendário-fiscal adotado pelo COPOM a economia brasileira não aguentaria.
Para contornar esse problema Roberto Campos dosou a taxa de juros e mirou o objetivo de levar a inflação para a meta em um período temporal contínuo e maior, e não no período temporal do ano-calendário fiscal.
Assim, na prática, foi adotado pelo COPOM o conceito de período temporal contínuo, mirando ter a inflação na meta só em dois ou três anos à frente e não no ano-calendário.
Ao fazer isso, buscar a inflação na meta em um período maior e contínuo e não imediatamente, Roberto Campos pôde dosar a taxa de juros, elevando-a para os 13,75% em que têm sido mantidas e não para os 26% que os cálculos mostravam serem os juros necessários para resolverem o problema em um murro só, mas que teriam a consequência de arrebentar completamente com a economia.
Agora, estamos assim::
▪A inflação, que havia passado de 10% e apontava para cima, agora está com previsão de pouco mais de 5% e apontando para baixo, sendo que a meta de inflação atual é de 3,25%. Mérito solitário de Roberto Campos e do COPOM.
Ao Brasil, para que a taxa de juros possa ser baixada com mais celeridade e que esta possa ser mantida baixa, o que falta é ter uma politica fiscal decente, sendo que neste momento e apesar do atual governo já estar no mandato há meio ano, nem uma âncora fiscal aprovada ele tem.
Se nem mesmo uma âncora fiscal foi agilizada a tempo por quem deveria, penso que o mais aconselhado é ter paciência, passar a fazer com mais eficiência o que deve ser feito e reconhecer os méritos de quem fez, e não ficar xingando!
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