O Estado de S. Paulo
A nova postura do Banco Central será testada com a divulgação da inflação de julho
Não são poucos os analistas que acreditam
que o Banco Central correu um risco em termos de credibilidade da política
monetária ao cortar a taxa Selic em 0,50 ponto porcentual, apesar de a sua
projeção de inflação para 2024 ter se mantido inalterada em 3,4%, acima da meta
de 3%, e ainda considerando como premissa uma redução menor dos juros, de 0,25
ponto, na reunião do Copom da semana passada.
Em outras palavras, o BC minimizou o peso que sempre deu para sua expectativa de inflação para definir os próximos passos da política monetária, preferindo agora, talvez, dar maior importância aos dados correntes de inflação, além de indicadores de atividade.
Essa nova postura de reação do BC será
testada nesta sexta-feira, com a divulgação do IPCA de julho. Os analistas vão
querer ver se o núcleo da inflação, que exclui os itens mais voláteis de
energia e de alimentos, seguirá apontando para uma dinâmica mais favorável dos
preços ao consumidor, como ficou evidente nos índices mais recentes. Ou seja,
se o núcleo voltar a recuar será maior a confiança de que a inflação poderá
desacelerar e convergir para a meta, permitindo ao Copom baixar a Selic no
ritmo sinalizado de 0,50 ponto nas próximas reuniões.
No último IPCA-15, a prévia da inflação de
julho, a média dos núcleos acumulada em 12 meses caiu para 5,53%, de 6,19% em
junho. Mas essa boa notícia foi relativizada por alguns analistas por causa de
um impacto que não deve mais se repetir: o programa de descontos para os carros
populares, que já foi encerrado pelo governo.
Ainda preocupa os analistas os preços de
serviços, uma vez que um mercado de trabalho apertado sustenta a demanda e pode
manter a inflação num patamar indesejado de forma mais persistente. No IPCA-15,
esse grupo registrou alta de 0,36%, em comparação ao avanço de 0,56% de junho.
Excluindo itens voláteis, como passagens
aéreas, o item “serviços subjacentes”, uma medida de inflação monitorada de
perto pelo BC por ser mais sensível à política monetária, caiu de uma taxa
acumulada em 12 meses de 6,53%, na prévia do IPCA de junho, para 5,93% em
julho. A crítica de analistas é de que essa desaceleração está mais lenta do
que o desejado para permitir o corte de juros com maior velocidade.
Para o IPCA fechado de julho, o consenso
das projeções é de leve alta de 0,06%, revertendo a deflação de 0,08% em junho.
E a taxa anual deverá subir de 3,16% para 3,9%. Essa aceleração da inflação
anual já era esperada. O que não está na conta é se a composição do índice
voltar a mostrar uma piora qualitativa.
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