O Globo
Esvaziada por oposição e governo, comissão
terminará um mês antes do prazo
A CPI do Golpe antecipou o fim dos trabalhos.
Vai terminar um mês antes do prazo, esvaziada pela oposição e pelo governo. “Na
próxima semana, não haverá mais nada”, informou o presidente Arthur Maia. Ele
descartou novas votações até a leitura do relatório, prevista para o dia 17.
Um acordão cancelou o depoimento de Braga
Netto, que estava marcado para amanhã. Ninguém protestou. Os bolsonaristas
queriam blindar o general, e os lulistas não estavam interessados em novos
atritos com a caserna.
O comandante do Exército, general Tomás Paiva, atuou pessoalmente para esfriar a CPI. Ele procurou parlamentares e alegou que era preciso preservar a imagem das Forças Armadas. É impossível entender a tentativa de golpe sem apurar a participação de militares, mas o discurso convenceu quem já estava convencido a blindar a farda.
Em agosto, a relatora Eliziane Gama afirmou
que “a instituição Forças Armadas impediu um golpe no país”. Ela disse ter se
expressado mal, mas a declaração expôs a estratégia do governo: culpar
o capitão e inocentar os generais.
O relatório da senadora deve apontar Jair
Bolsonaro como chefe da trama golpista. Apesar disso, o Planalto não moveu uma
palha para convocá-lo. “Bolsonaro está inelegível. Tudo o que ele quer é ficar
em evidência”, justifica o deputado Rubens Pereira Júnior. Faz sentido, mas é
raro ver uma CPI abrir mão de ouvir seu principal alvo.
Um senador próximo ao presidente Lula admite
que a ordem era jogar pelo empate. Ele sustenta que a investigação que importa
é a da Polícia Federal. Por essa lógica, o 0 a 0 na CPI seria um bom resultado
para o governo.
A sessão de ontem deu outros argumentos a
quem quer acabar logo com a comissão. Enquanto o depoente se recusava a falar,
um deputado e uma senadora trocaram provocações sobre botox e desenho de
sobrancelhas.
Diante desse espetáculo, fica difícil
reclamar das interferências do Supremo na CPI. O ministro Kassio Nunes Marques
acaba de aprontar mais uma. Anulou a quebra dos sigilos de Silvinei Vasques, o
bolsonarista que mandou a Polícia Rodoviária Federal bloquear as estradas para
tumultuar a eleição.
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