O Globo
'Governo de Israel atravessa
um inédito processo de isolamento fora do mundo islâmico'
Em 2007, quando estava na
oposição, Benjamin
Netanyahu ensinou:
“Você não pode ter um primeiro
ministro num país como Israel se ele não tem algum tipo de habilidade para
conceber um conceito de diplomacia e segurança.”
Desde outubro, quando os
terroristas do Hamas atacaram Israel, sabia-se que seus serviços de
inteligência haviam fracassado. Só agora o general que os comandava deixou o
cargo. Seis meses depois, enquanto o governo de Netanyahu atravessa um inédito
processo de isolamento fora do mundo islâmico.
As manifestações de estudantes
americanos acampando em universidades são um aviso de que algo está
acontecendo. Eles não são contra Israel. Condenam o tipo de guerra que
Netanyahu faz na Faixa de Gaza.
O primeiro-ministro de Israel entrou na tenebrosa galeria dos governantes que fazem o jogo do “cachorro doido”. Acreditam que prevalecerão indicando aos outros que são capazes de fazer o impensável.
Quem primeiro expôs essa
teoria foi o presidente americano Richard Nixon diante da guerra do Vietnã. Deu
com os burros n’água. Antes dele, o primeiro-ministro soviético Nikita Kruschev
armou o mesmo bote em 1962, botando ogivas nucleares em Cuba. Dançou.
Vinte anos depois, o ditador
argentino Leopoldo Galtieri invadiu as Ilhas Malvinas achando que a Inglaterra
não reagiria. A primeira-ministra Margaret Thatcher desceu a frota e retomou as
ilhas, e Galtieri foi deposto.
No Brasil o cachorro doido
ladrou em 1961, mas acabou mordendo o próprio rabo. O presidente Jânio Quadros
mandou pelo menos quatro bilhetes aos ministros militares tratando das Guianas.
No primeiro, de 31 de julho,
denunciava a “presença de fortes correntes de esquerda, algumas,
reconhecidamente, comunistas” e perguntava:
“Haverá, ainda, a
possibilidade da nossa penetração nesses três Estados e, eventualmente, a da
integração respectiva, no todo ou em parte, a nosso país?”
No último, de 24 de agosto,
Jânio havia abandonado a ideia da “integração” e programou uma reunião do
Ministério para tratar da Guiana Inglesa.
Segundo Jânio:
“Com as recentes eleições da
Guiana Britânica instalar-se-á, sem dúvida, ao norte do Brasil, um país de
estrutura soviética.
Conheço o dirigente desse novo
governo e considero-o da mais alta periculosidade.”
No dia seguinte, Jânio tentou
outro golpe. Com o vice-presidente terminando uma viagem à China, renunciou à
Presidência e esperou que pedissem a sua volta.
Enganou-se.
Em geral, o “cachorro doido”
perde.
Precisa-se de um coordenador
Surgiu em Brasília a ideia de
colocar o vice-presidente Geraldo
Alckmin na coordenação política do governo. Não tem a menor
possibilidade de dar certo.
Dilma
Rousseff tentou essa manobra usando seu vice, Michel Temer.
Deu no que deu.
Temer até tentou alguns passos
e foi torpedeado pelo comissariado petista. Figurativamente, ele fazia os
acertos usando o seu cartão de crédito e o Planalto não pagava as contas.
O marinheiro e o almirante
Tramita na Câmara um projeto
aprovado pelo Senado que manda inscrever no livro dos “Heróis da Pátria” o
marinheiro negro João Cândido, líder da Revolta da Chibata, de 1910.
Essa revolta começou no
encouraçado Minas Gerais e espalhou-se por outros navios da frota da Baía de
Guanabara e durou quatro dias. Pediam: “que desapareçam a chibata, o bolo, e
outros castigos”, bem como o aumento do soldo. Bombardearam o Rio, com a morte
de duas crianças. Terminado o motim, os rebeldes foram anistiados, com o apoio
de Rui Barbosa.
O comandante da
Marinha, almirante Marcos Olsen, escreveu à Comissão de Cultura da Câmara,
desaconselhando a iniciativa:
“Nos dias atuais, enaltecer
passagens afamadas pela subversão, ruptura de preceitos constitucionais
organizadores e basilares das Forças Armadas e pelo descomedido emprego da
violência de militares contra a vida de civis brasileiros é exaltar atributos morais
e profissionais, que nada contribuirá ao pleno estabelecimento e manutenção do
verdadeiro Estado democrático de Direito.”
Tudo bem. Revolta é revolta e
revoltoso é revoltoso, mas a Marinha precisa equilibrar a equação.
Desde 1933 ela manteve na sua
frota o navio-escola Saldanha da Gama. Desativou-o em 1990 e está construindo
outro, com o mesmo nome, para apoio na Antártica.
Luís Filipe Saldanha da Gama
(1846-1895) era um almirante de vitrine e se achava. Revoltou a Armada em 1893
contra o governo do marechal Floriano Peixoto, perdeu e foi combater no Rio
Grande do Sul. Lá, foi batido e degolado.
Saldanha queria que Floriano
convocasse eleições. Foi um rebelde do andar de cima. João Cândido, insurreto
do andar de baixo, queria acabar com a chibata. Ambos se revoltaram, porém
prevaleceram.
Um é nome de navio da Marinha,
o outro é nome de um petroleiro da Transpetro.
Inteligência educacional
O governador Tarcísio de
Freitas e seu secretário de Educação, Enredo Feder, querem usar instrumentos de
inteligência artificial para produzir as aulas digitais que são utilizadas
pelos professores de todas as escolas da rede estadual paulista.
Saiba-se lá o que é isso, mas
a dupla precisa recorrer à própria inteligência convencional para cuidar da
quitanda que administra.
O município de Morungaba (SP)
tem 3 mil habitantes. Há 12 anos lá funciona a escola privada Ratimbum com 72
alunos (seis bolsistas) que cursam até a 5ª série. Há mais de um ano a escola
pediu aos educatecas autorização para ampliar suas matrículas, com aulas até a
9ª série.
A Ratimbum recebeu quatro
visitas de inspetores com inúmeras exigências, algumas erradas. Atendeu várias.
(Um pedido, verbal, exigia que a água dos bebedouros viesse da Sabesp, que não
atende o local onde fica a escola.)
Algum programa de inteligência
artificial poderia organizar a comemoração do segundo aniversário da espera da
autorização.
Londres na primavera
A primavera londrina recebeu
mais uma série de palestras enfeitadas por magistrados brasileiros. Foi o 1º
Fórum Jurídico Brasil de Ideias. Juntou três ministros do Supremo Tribunal
(Alexandre de Moraes, Dias Toffoli e Gilmar Mendes), mais cinco juízes do STJ.
Um dos painéis, abrilhantado
pelos ministros, discutiu “Mecanismos de aprimoramento do processo eleitoral
brasileiro”.
Faz tempo, um diplomata ia
todo ano a Nova York para participar de uma reunião que discutia a
independência da Namíbia e comentava:
— Se essa comissão se reunisse
na Namíbia, ela seria independente há muitos anos.
Se o aprimoramento do sistema
eleitoral brasileiro tiver que ser discutido na Baixada Fluminense, seus
problemas serão logo resolvidos.
O ministro Alexandre de Moraes
não dá sorte com as sedes de suas palestras. Entre os patrocinadores da farofa
de Londres esteve o empresário Alberto Leite. Em 2022 ele recebeu na pista do
condomínio onde vive o jatinho que trazia Elon Musk, para um encontro com o
presidente Jair Bolsonaro.
Ausência
Nos próximos quatro domingos o
signatário cultivará o ócio.
2 comentários:
Excelente! A diplomacia de Israel é feita por uma QUADRILHA de mentirosos e criminosos, que servem a um governo GENOCIDA!
Muito bom!
Postar um comentário