O Estado de S. Paulo
Há quem diga que a catástrofe no Rio Grande do Sul é a covid do governo Lula
A decisão do presidente Luiz Inácio Lula da
Silva de anunciar novas medidas de socorro ao Rio Grande do Sul no próprio
Estado não foi apenas para ter a seu lado os chefes dos Poderes na viagem. Lula
desembarcará hoje em Canoas e, desta vez, quer visitar ao menos um abrigo, em
São Leopoldo.
A portas fechadas, o presidente reclamou muito com auxiliares de terem montado para ele uma agenda que o mantinha numa sala, sem contato com as vítimas, nas duas vezes em que esteve no Rio Grande do Sul. Nos últimos dias 2 e 5, Lula sobrevoou regiões alagadas e fez pronunciamentos. Mas medidas de grande impacto, como a suspensão da dívida com a União por três anos e um pacote de R$ 50,9 bilhões, foram divulgadas no Palácio do Planalto.
Agora, Lula vai instalar em Porto Alegre um
gabinete federal para coordenar o trabalho durante a calamidade provocada pelas
fortes chuvas, que mataram 148 pessoas e deixaram 538 mil desabrigados. O
ministro escalado para a tarefa é Paulo Pimenta (Comunicação Social), que em
2026 pretende disputar o governo gaúcho pelo PT.
Além disso, o presidente anunciará um auxílio
emergencial para 100 mil famílias que perderam tudo nas enchentes. O valor do
voucher deve ser de R$ 5 mil por família.
O desenho das medidas foi fechado ontem em
encontro de
Lula com os presidentes do Senado, Rodrigo
Pacheco, e da Câmara, Arthur Lira, e com o vice-presidente do Supremo Tribunal
Federal, Edson Fachin.
Na véspera, em reunião de emergência com
todos os ministros, Lula avaliou que o governo está perdendo a batalha da
comunicação para seguidores do ex-presidente Jair Bolsonaro. Disse que
ministros batem cabeça, anunciando “ideias”, como numa orquestra desafinada.
Ninguém do governo diz publicamente, mas
existe uma preocupação da equipe econômica com o futuro do ajuste fiscal. Nos
bastidores, há quem diga que a catástrofe no Rio Grande do Sul é a covid do
governo Lula. Os mais pragmáticos lembram que o governador Eduardo Leite (PSDB)
é adversário de Lula e quer concorrer ao Planalto, em 2026.
Trata-se de um raciocínio mesquinho diante da
catástrofe sem precedentes, que pode se agravar ainda mais se o Congresso
aprovar o “pacote da destruição”, com 25 projetos de lei e três emendas que
“flexibilizam” licenças ambientais.
O cavalo Caramelo, o cachorro vira-lata que
continuou “nadando” no ar após ser resgatado, o cardiologista Leandro Medice,
do Espírito Santo, morto após trabalhar um dia inteiro como voluntário para
salvar vidas, e a bebê Agnes, levada pela enxurrada quando o barco virou, são
símbolos dessa tragédia sem fim.
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