Folha de S. Paulo
Leilão anulado e medida provisória devolvida
são sintomas de uma ação política atabalhoada
No último mês, o governo abriu a caixa de
ferramentas para encarar dois problemas. Primeiro, Lula anunciou
um leilão para segurar o preço do arroz após as enchentes gaúchas. Depois, a
equipe econômica bolou uma medida que deveria cobrir um buraco bilionário em
seu cofre.
Algumas horas foram capazes de fazer o presidente e seus auxiliares voltarem todas essas casas. Com a anulação da compra de arroz e a devolução da medida provisória que deveria compensar a prorrogação da desoneração da folha, o governo girou em falso.
Os dois casos são sintomas de uma ação
política atabalhoada. Pouco depois dos temporais que inundaram o Rio Grande do
Sul, o governo correu para preparar um leilão de importação de arroz com o
objetivo de amortecer a variação de preços. O processo acabou correndo
com empresas sem
capacidade técnica e sob conflito de interesses.
A decisão de anular a compra manteve o
fantasma dos preços e criou duas encrencas que o governo não tinha. O primeiro
é o desgaste de um episódio que transita entre incompetência, improviso e
suspeita de jogo sujo. O segundo é a dívida que Lula contraiu ao prometer que
mandaria arroz barato para as prateleiras.
A pancada que o governo levou no caso da
desoneração, por sua vez, pode até ser debitada na conta do lobby pesado
da indústria e do agronegócio, mas o time de Lula deveria ter
entrado em campo conhecendo o fôlego dos adversários.
A Fazenda e o Planalto editaram uma medida
provisória que mordia benefícios generosos sem medir o tamanho da gritaria
desses setores. Para completar, ficaram sem rede de proteção no Congresso
porque não negociaram o texto com os presidentes da Câmara e do Senado.
A derrubada do
veto das saidinhas havia
sido amarga, mas o governo absorveu a derrota com o argumento de que sua
prioridade era a pauta econômica. Os dois golpes sofridos nesta
terça-feira (11) sugerem que o Congresso conservador não é o único problema de
Lula.
Um comentário:
Pois é.
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