O Globo
De 1980 a 2023, a produtividade se expandiu
ao ritmo de 0,1% ao ano. Está na hora de o tema ser tratado como prioridade
pela liderança política
O PIB de um país só pode aumentar por conta
de um dos seguintes fenômenos: i) porque há mais pessoas produzindo; ii) porque
há mais capital, na forma de máquinas, equipamentos ou construção civil; e/ou
iii) porque, dada a mesma quantidade desses fatores, eles são combinados de
forma a poder produzir mais.
Comecei a estudar Economia em 1980. Nos 40
anos anteriores, com todas as qualificações que possam ser feitas à qualidade
das estatísticas antigas, o fato é que a produtividade por pessoa ocupada no
Brasil aumentara à respeitável taxa de 4,2% a.a. Já nos 43 anos entre 1980 e
2023, a mesma variável se expandiu ao ritmo vergonhoso de 0,1 % a.a.
Talvez nada expresse de forma mais eloquente do que essa comparação a ideia de que nosso país “parou no tempo”. Com um agravante: o assunto passa a anos-luz das questões discutidas no ambiente político, onde perdemos tempo com propostas equivocadas, quando não ocupados com debates ridículos.
Discutimos uma isenção fiscal aqui, um
aumento de gastos lá, quando, como diz o Prêmio Nobel Paul Krugman, “no longo
prazo, a produtividade é quase tudo”.
Procurando dar nossa contribuição ao debate,
com meu colega José Ronaldo de Castro Souza Jr organizamos o livro “O desafio
da produtividade” (Editora Lux), que acabamos de lançar e no qual 31
especialistas se debruçaram sobre os diferentes aspectos que afetam essa
variável, procurando explicar as razões de nosso desempenho tão medíocre e
sugerir caminhos para o futuro.
O livro se inicia com duas epígrafes, das
quais uma sintetiza a dimensão política do desafio. A frase é de Juan Carlos
Torre, membro da equipe de Raul Alfonsín e que quase 4 décadas depois daquele
governo politicamente notável, mas economicamente desastroso e com quase todos
os atores da época já falecidos, publicou as memórias sobre aquela experiência,
onde reconheceu que “o pensamento progressista argentino esteve
tradicionalmente voltado para os temas da distribuição de renda e da defesa dos
recursos nacionais.
As questões referentes ao crescimento e a
como fazer para gerar racionalidade econômica nunca ocuparam um lugar central
na sua agenda”. A mesma reflexão, ipsis litteris, poderia ser feita sobre a
intelligentzia progressista brasileira.
Dividimos o tratamento do tema,
conceitualmente, em quatro partes. A primeira é uma introdução com os aspectos
gerais da questão. A segunda é uma espécie de survey da literatura
especializada sobre o tema.
A terceira está associada à seguinte
reflexão: “Por que nossas políticas públicas prejudicam a produtividade do
país?” e traz um conjunto de capítulos nos quais faz-se uma espécie de
compêndio de nossas falhas históricas que explicam o pobre desempenho das
últimas quatro décadas, indo desde os problemas de nosso sistema tributário até
a cada vez mais grave questão da nossa insegurança jurídica, passando pelas
distorções da legislação trabalhista, os equívocos de nossa política comercial,
as mazelas da nossa educação e de nossa infraestrutura, etc.
Finalmente, a quarta parte traz um conjunto
de capítulos englobados na ideia de “O que fazer?” e sugere desenvolver os
temas da inovação e da melhora das práticas de gestão e incorporar os temas da
transição energética, fechando com uma espécie de roteiro que coloque o aumento
da produtividade no topo da agenda de prioridades do país.
Em 2004, num outro livro que organizei,
Armando Castelar concluía seu capítulo com o título “Por que o Brasil cresce
pouco?” dizendo que “se nos próximos 20 anos o Brasil quiser repetir o
excelente desempenho de 1930-1980, será necessário combinar uma queda do custo
do investimento, com um aumento da poupança nacional e políticas que sustentem
um significativo crescimento da produtividade”.
É deprimente que, 20 anos depois, essas
palavras continuem sendo atuais. Nesse ínterim, se nos fue la vida. Está
na hora do tema passar a ser tratado como prioritário pela liderança política
do país.
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