sexta-feira, 7 de junho de 2024

Vera Magalhães - Eleições juntas e misturadas

O Globo

Presidente parece ter despertado para o crescimento dos nomes da direita nas cidades mais importantes

Depois de tentar ao máximo adiar a discussão da própria sucessão, Arthur Lira surpreendeu a todos ao anunciar, durante o jantar de aniversário de um deputado nesta semana, em Brasília, que em agosto anunciará o nome que apoiará à presidência da Câmara.

Também afastou a ideia de Lula vir a vetar o nome. Das duas, uma: ou Lira acredita que o presidente abrirá mão completamente de ter qualquer voz na escolha do comandante da Casa onde vem enfrentando mais problemas de governabilidade, ou desistiu de bancar a postulação do líder do União Brasil, Elmar Nascimento (BA), que Lula já disse aos quatro ventos não aceitar de jeito nenhum.

Ao antecipar uma escolha que pretendia postergar ao máximo, Lira demonstra que pretende selar um acordo com o governo para a eleição interna: 1) enquanto sua caneta ainda está cheia, e a pauta do Executivo no ano não foi votada; e 2) simultaneamente às eleições municipais, e não depois.

Essa pororoca das eleições é algo que pode influenciar o jogo interno pela composição das mesas das duas Casas. A depender da correlação de forças políticas que emergir das urnas em outubro, pode haver mudança e correção de rota nas coalizões em Brasília, tanto a que dá (certo) apoio a Lula quanto a que se aglutinou nos últimos anos em torno do cacique alagoano, que ele quer manter unida para fazer o sucessor e ter um nível de apoio que o preserve quando voltar à planície.

Lula parece ter acordado, nesta semana, para a importância de coordenar as alianças em que estão o PT e os partidos da base para as campanhas municipais. Teve de fazer intervenções específicas nas três principais capitais: São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Em todas elas, o bolsonarismo avançava de maneira preocupante para o presidente.

Fora do poder, inelegível, correndo riscos também na seara penal, nas várias investigações contra ele na Polícia Federal e no Supremo Tribunal Federal, Jair Bolsonaro tem apostado todas as fichas em manter sua força política como forma de pressão sobre a Justiça. Dessa estratégia, faz parte sair forte do pleito municipal e, assim, construir candidatos competitivos aos governos, à Presidência e — obsessão maior do ex-presidente — ao Senado, onde espera colocar em marcha a anistia para si e para seus aliados e, sobretudo, o impeachment de ministros do STF.

O nível de envolvimento de Bolsonaro e da cúpula do PL na eleição municipal até aqui era bem mais visível que o de Lula. O presidente parece ter despertado para o crescimento dos nomes da direita nas cidades mais importantes e decidiu botar o bloco na rua.

Debelou uma rebelião do PT com a candidatura de Guilherme Boulos, manifestada no corpo mole, na recusa em ajudar a pagar os boletos e, pior de tudo, na adesão velada de nomes famosos do petismo na capital à candidatura do prefeito (e candidato bolsonarista) Ricardo Nunes.

A segunda iniciativa do presidente foi para tentar pressionar Eduardo Paes (PSD) a aceitar um vice petista. Algo que parece mais para inglês ver, pois todo mundo sabe que a pretensão do prefeito do Rio é ter um companheiro de chapa do mesmo partido para ter segurança de renunciar e se candidatar ao governo daqui a dois anos.

Por fim, Lula promoveu uma aliança entre o PT e o PSOL em Belo Horizonte, não imaginando que essa aliança tenha alguma chance, mas apostando numa jogada combinada com o prefeito Fuad Noman, também do PSD de Gilberto Kassab, que pressupõe aliança contra o bolsonarismo no segundo turno

Diante de tantos lances de bastidores, o que se tem são três eleições já deflagradas (afinal, todos os caminhos levam a 2026). A conferir se esse ambiente permitirá que as votações ainda necessárias neste ano, sobretudo a regulamentação da reforma tributária, não fiquem em terceiro ou até quarto plano.

 

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