terça-feira, 2 de julho de 2024

Eliane Cantanhêde - Barbas de molho

O Estado de S. Paulo

Se Lula replicar o enfraquecimento de Biden e Macron, quem lucra no Brasil?

O mundo anda tão louco que o presidente Emmanuel Macron convocou a antecipação das eleições parlamentares na França, para perder feio, assim como o presidente Joe Biden desafiou Donald Trump para um debate e para ser massacrado, a meses da eleição nos EUA. Só antecipa eleição e propõe debate quem sabe que vai ganhar e era evidente que eles iriam perder. Ou Macron e Biden têm uma estratégia supersofisticada, ou estão mal assessorados, ou fora da realidade ou, simplesmente, desesperados. A resistência internacional à extrema direita se enfraquece, assim como Macron, principal interlocutor do presidente Lula.

Os efeitos do enfraquecimento de Macron e Biden vão além da França, da própria Europa e dos Estados Unidos. Trump de volta na maior potência e Marine Le Pen em franca ascensão no berço da “liberdade, igualdade e fraternidade” confirmam a escalada da extrema direita no mundo. Até o partido neonazista se movimenta e confronta a história e o código penal da Alemanha, que proíbe apologia do nazismo.

Na França, o Reagrupamento Nacional, de Le Pen, venceu o primeiro turno, com 34% dos votos, seguido pela Nova Frente Popular, da centro esquerda à extrema esquerda, com quase 28%. A coalizão de Macron ficou em terceiro, com pouco mais de 20% – um vexame. O índice de comparecimento dos eleitores, 67%, foi o maior desde 1997 e mostra que a sociedade quer mudança. O segundo turno vem aí.

Dólar e euro disparam, um em R$ 5,65 e o outro, em R$ 6, com o presidente Lula teimosamente atacando o Banco Central, enquanto a França, toda Europa e os EUA mergulham em incertezas, a China está quieta e Vladimir Putin, à espreita. Aliás, o que Trump quis dizer, quando anunciou que acabaria com a guerra da Ucrânia antes mesmo de tomar posse? Além de suspender a ajuda militar, quer dar a Ucrânia de bandeja para a Rússia?

O ambiente é confuso, preocupante, com a extrema direita se espalhando pela Europa – Itália, França, Alemanha, Espanha, Hungria, Polônia... –, Trump franco favorito nos EUA, apesar de ter atiçado a invasão do Capitólio, e até Javier Milei fazendo das suas na Argentina e viajando pelo mundo em articulações, não com governos, mas com grupos conservadores ou extremistas, como fará no Brasil na semana que vem. Onde isso vai dar?

A responsabilidade de Lula se torna ainda maior, e o que se espera dele não é um samba de uma nota só, com ataques que só enchem de dinheiro os especuladores em dólar. Em algum momento, ele vai ter de ser mais consequente, assumir o equilíbrio fiscal e anunciar um plano de voo claro e factível. Se Lula replicar a fragilização de Biden e Macron, quem lucra?

 

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