Norberto Bobbio, importante pensador político
italiano, em seu livro “DIREITA e ESQUERDA: razões e significados de uma
distinção política” (1994) afirma: “Creio que a questão está mal posta. A
diferença entre direita e esquerda não se manifesta sob a forma de tensão entre
uma igualdade de direita e uma igualdade de esquerda, mas com base no diverso
modo em que é concebida, respectivamente pela direita e pela esquerda, a
relação entre igualdade e desigualdade... A diferença entre direita e esquerda
revela-se no fato de que para a pessoa de esquerda, a igualdade é a regra e a
desigualdade, a exceção... ao passo que, para o indivíduo de direita, vale
exatamente o contrário, ou seja, que a desigualdade é a regra e que, se alguma
relação de igualdade deve ser acolhida, ela precisa ser devidamente
justificada”.
Marco Aurélio Nogueira, na orelha do livro,
realça: “Traço peculiar da chamada cultura pós-moderna, a alegação que os
conceitos de esquerda e direita se tornaram obsoletos com a crescente
complexidade das estruturas sociais e sobretudo com a crise do socialismo,
parece querer impregnar numerosos ambientes políticos e intelectuais”. Francis
Fukuyama chegou a falar no fim da história e na morte das ideologias.
É verdade que todos os paradigmas ideológicos
entraram em crise no final do século XX e início do XXI, inclusive o
liberalismo com a crise mundial de 2008/9 e a recente reversão relativa da
globalização. E o populismo autoritário iliberal de Trump, Putin, Orbán, Le
Pen, Meloni, Salvini, não havia ainda surgido no cenário internacional. Há
também que se considerar o fortalecimento de um campo centralizado
(centro-direita, centro-esquerda) alternativo a polaridade direita-esquerda,
que tem papel decisivo e pendular.
As recentes e as próximas eleições de 2024
reafirmam a pertinência das categorias direita e esquerda. Trump, diante das
fragilidades de Biden, prenuncia uma perigosa vitória da extrema-direita
americana, com repercussões muito além das fronteiras dos EUA. As frustações
com a globalização e a complexa questão das imigrações levaram a um grande
crescimento da extrema-direita no Parlamento Europeu, principalmente na
Alemanha, França e Itália. Em compensação, os trabalhistas ingleses, após um
giro ao centro, obtiveram uma esmagadora vitória após o fracasso do Brexit. E a
população francesa reestabeleceu o equilíbrio dando a vitória à esquerda e ao
centro sobre o Reagrupamento Nacional de Marie Le Pen.
Enfim, é preciso repensar as novas questões colocadas pela realidade. Mas os conceitos de direita e esquerda, embora reciclados, continuam referenciais para a construção do futuro.
3 comentários:
Muito bom! Parabéns ao autor, e ao blog que publica e divulga seu original trabalho! É importante o leitor perceber que este autor não é jornalista, e seu texto está sendo escrito especialmente e exclusivamente para este blog.
Obrigado pelas palavras de estímulo. Importante estimular a livre discussão de ideias num mundo tão marcado pela intolerância.
Muito bom o artigo!
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