sexta-feira, 30 de agosto de 2024

Bernardo Mello Franco - Bolsonaro costeou o alambrado

O Globo

Se for trocado por Pablo Marçal na eleição de SP, Ricardo Nunes não terá a quem culpar

Na segunda-feira, Pablo Marçal culpou Carlos Bolsonaro pela derrota do pai na corrida presidencial. “Ele é um retardado mental. Um estúpido”, disparou. Dois dias depois, o vereador e o coach se falaram por telefone. Ao relatar a conversa, Carluxo engoliu os desaforos e elogiou o detrator. “Queremos rumar nas mesmas direções”, garantiu.

Interpretar o Zero Dois não é tarefa para iniciantes, mas desta vez a mensagem foi clara. O clã mediu os riscos e desistiu de declarar guerra a Marçal. O armistício abre caminho para uma aliança no segundo turno da eleição paulistana. Ou no primeiro, se a candidatura de Ricardo Nunes derreter nas próximas semanas.

Os seguidores do Mito já iniciaram uma migração. De acordo com o Datafolha, Marçal subiu de 29% para 44% entre os eleitores de Bolsonaro. Nunes caiu de 38% para 30% no mesmo público, apesar do apoio formal do ex-presidente.

Na semana passada, o capitão ensaiou torpedear o coach para tentar conter seu crescimento. Agora agita a bandeira branca em sinal de trégua. Em vídeo divulgado na quarta, ele informou que “qualquer candidato” poderá subir em seu palanque no 7 de Setembro. Nunes confirmou presença, mas arrisca ser recebido com vaias.

O ex-governador Leonel Brizola, que amargou muitas traições em sua longa carreira política, diria que Bolsonaro está costeando o alambrado. O movimento aumenta a pressão sobre Nunes, que precisará se curvar ao clã para tentar evitar uma debandada.

Aliados do capitão reclamam que o prefeito pediu ajuda, mas evitou abraçar suas bandeiras. É uma meia verdade, porque Nunes entregou a vice a um coronel brucutu, e sua gestão flertou com o obscurantismo ao dificultar o acesso de mulheres ao aborto legal.

Hoje começa a propaganda obrigatória em rádio e TV. O prefeito terá mais de 60% das inserções, mas auxiliares já admitem que o latifúndio pode não ser suficiente para conter o avanço de Marçal. Se perder a reeleição, Nunes não terá a quem culpar pela estratégia que ele mesmo escolheu. Em 2020, Bruno Covas dispensou o apoio de Bolsonaro e venceu Guilherme Boulos em 50 das 58 zonas eleitorais.

 

2 comentários:

Anônimo disse...

Bruno Covas era respeitado, filho de um grande político e com luz própria. Nunes e Marçal são criaturas das trevas, saíram do esgoto onde se escondiam e sonham com o estrelato depois de pequenos crimes e muitas mentiras.

ADEMAR AMANCIO disse...

Bruno Covas era neto de Mário Covas.