O Estado de S. Paulo
Aliados do ex-presidente se movimentam para
emplacar perdão, em meio à campanha e à sucessão de Arthur Lira
Líder do governo, José Guimarães (PT) pediu
que a discussão fique para depois das eleições para evitar a ‘praça de
xingamento’
Sob o argumento de que é preciso conceder
anistia aos condenados pelos ataques do 8 de janeiro de 2023, aliados de Jair
Bolsonaro se movimentam para tentar derrubar a decisão do Tribunal Superior
Eleitoral (TSE) que julgou o ex-presidente inelegível até 2030. É este o pano
de fundo da polêmica sobre o perdão a quem praticou atos golpistas, aliado ao
pedido de impeachment do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre
de Moraes.
A menos de um mês das eleições para as
prefeituras e na esteira de uma acirrada disputa pela presidência da Câmara, o
projeto de lei que prevê a anistia aos presos do 8 de janeiro virou instrumento
de barganha política e de “lacração” nas redes sociais.
A sessão da última terça-feira na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) evidenciou esse cenário. Diante de uma reprodução do famoso quadro de Rafael Falco “Tiradentes ante o carrasco” – que, pendurado na sala da CCJ, mostra o mártir da Independência Mineira recebendo a veste que usaria em sua execução –, bolsonaristas tentaram de todo jeito votar o projeto da anistia.
QUESTÕES DE ORDEM. Mas questões de ordem para
lá e para cá, manobras de obstrução e um bate-boca sem fim entre apoiadores de
Bolsonaro e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva acabaram barrando o avanço
da proposta.
Antes, o deputado Patrus Ananias (PT-MG)
tentou encaixar, fora da pauta daquela reunião, a análise de um projeto que
aumenta as penas para quem comete crimes ambientais, sob a justificativa de que
mais da metade do País está pegando fogo. Foi prontamente rechaçado. Em tom de
deboche, integrantes da oposição cantarolaram “Salve a Amazônia, salve a
Amazônia!”.
Munido de uma foto que associava o candidato
do PSOL à Prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos, a incêndios, o deputado
Nikolas Ferreira (PL-MG) disse ali, em outro momento da discussão, que a
esquerda não tinha “envergadura moral” para falar em democracia. “Lave a sua
boca para dizer que deputado de direita não respeita a democracia”, gritou
Nikolas, dirigindo-se à deputada Erika Kokay (PT-DF).
“O seu presidente recebeu de tapete vermelho o Nicolás Maduro”, completou ele, numa referência à recepção oferecida por Lula ao ditador da Venezuela, em maio do ano passado. Perto do colega, o deputado Sanderson(PL-RS) ironizou: “Viva Maduro e a Venezuela!”
Depois de quase três horas de gritos, vaias e
troca de insultos, os governistas conseguiram adiar a votação. “Isso aqui não é
terreiro de briga de galo, não”, protestou o líder do governo, deputado José
Guimarães (PT-CE). “Vamos deixar essa discussão para depois das eleições até
para estabelecer uma convivência mínima entre nós, e não fazer da nossa relação
uma praça de xingamento.”
Na plateia havia parentes de presos do 8 de
janeiro, pessoas enroladas na bandeira do Brasil e outras segurando cartazes
que pediam anistia. Entre elas, Jane Duarte, a viúva de Cleriston Pereira da
Cunha, empresário que morreu na Papuda, em novembro.
“Aqui não estão preocupados com bagrinhos
condenados”, disse o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ). “Querem é fazer desse
projeto de anistia um terceiro turno de eleição indireta para resgatar
Bolsonaro.”, completou.
MANOBRA. Para obter o aval do PL à
candidatura de Hugo Motta (Republicanos) na eleição que vai escolher o sucessor
do presidente da Câmara, Arthur Lira, o PP patrocinou uma manobra na Comissão
de Constituição e Justiça. Antes do início da sessão, o partido de Lira trocou
deputados que votariam contra a anistia.
Três dias depois do ato de 7 de Setembro na
Avenida Paulista, o próprio Bolsonaro ligou para integrantes da CCJ pedindo
apoio ao projeto que pode significar sua reabilitação política, embora a
Polícia Federal (PF) esteja prestes a indiciá-lo novamente, desta vez por
tentativa de golpe.
Na outra ponta, o deputado Elmar Nascimento
(União Brasil-BA), candidato preterido por Lira, orientou os correligionários a
obstruir a votação após saber que uma ala do PL, antes comprometida com ele,
quer agora aderir à campanha de Motta.
UNIÃO BRASIL. Com a estratégia, o União
Brasil ajudou a segurar o projeto mais importante para os bolsonaristas. O
objetivo de Elmar é empurrar o PL de volta à mesa de negociações para apoiá-lo.
Nos bastidores, o deputado tem afirmado que só ele, se eleito presidente da
Câmara, em fevereiro de 2025, terá coragem de levar para o plenário uma
proposta de anistia a Bolsonaro e seus aliados.
O pedido de impeachment de Moraes, que
desembarcou no Senado, é mais difícil de passar, ao menos por enquanto. Cabe ao
presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), autorizar a abertura do processo
e ele já avisou que não o fará.
Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), provável
sucessor de Pacheco, fez chegar a ministros do STF, porém, que nenhum
presidente do Senado terá controle sobre isso se, após as eleições de 2026,
bolsonaristas conseguirem eleger a maioria dos representantes na Casa de Salão
Azul.
O que mais preocupa o STF, no entanto, é a aprovação do projeto de anistia aos condenados do 8 de Janeiro, que abre brecha para Bolsonaro derrubar sua inelegibilidade.
Um comentário:
A última palavra não é a do Supremo?
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