quinta-feira, 17 de outubro de 2024

César Felício – Emedebista continua favorito, mas abstenção pode prejudicá-lo

Valor Econômico

Abstenção tende a ser mais alta entre eleitores mais propensos a votar em Nunes do que entre os mais inclinados para Boulos

prefeito de São PauloRicardo Nunes (MDB) mantém o favoritismo para se reeleger, apesar do extenso e longo apagão que se abateu sobre São Paulo depois de um rápido temporal na última sexta-feira (11). A pesquisa Quaest divulgada nessa quarta-feira (16) pela Globonews atesta isso, ainda que com margem inferior à registrada na quinta passada pelo Datafolha.

O prefeito marcou 45%, dez pontos percentuais a menos, enquanto Guilherme Boulos (Psol) registrou 33% em um e em outro. O ponto de contato entre os dois levantamentos é o resultado na pesquisa espontânea, sem a apresentação prévia dos nomes, uma situação mais próxima a que existe no momento do voto.

Por esta abordagem Nunes ficou com 38% e Boulos com 28%. No Datafolha o emedebista tinha marcado 41% e Boulos 29%. Não convém comparar pesquisas de institutos diferentes com metodologias diferentes, mas se há um ponto em que a comparação é defensável é exatamente na pesquisa espontânea, porque tende a ser mais independente de sutilezas de questionário.

O levantamento da Quaest inovou ao tentar captar o que se chama nos Estados Unidos de "likely voter", ou seja, identificar o eleitor que efetivamente pretende votar daquele que não fará isso. O voto no Brasil é obrigatório, mas nada menos que 27% do eleitorado paulista não apareceu para votar no último dia 6.

Normalmente, a abstenção cresce entre o primeiro e o segundo turno, e essa tendência pode ser maior em São Paulo, dada à grande fragmentação do quadro eleitoral no primeiro turno. Quando se considera votos totais, estamos falando de um segundo turno disputado por um candidato que obteve 19,3% contra outro que conseguiu 19,1%. Nos votos válidos, como se sabe, Nunes ficou com 29,5% e Boulos com 29,1%.

A Quaest fez uma categorização nova, separando os 66% do eleitorado já fortemente inclinado a votar em Nunes ou em Boulos dos 34% que estão em disputa. Esses 34% foram divididos em dois blocos: os desmotivados a irem votar (20%) e os motivados (14%). Dentro do universo dos desmotivados, 27% disseram preferir Nunes e 8% preferir Boulos. Dentro do eleitorado em disputa que está motivado a ir votar, 41% se inclinam por Nunes e 40% por Boulos. A conclusão que se pode tirar é que a abstenção tende a ser mais alta entre eleitores mais propensos a votar em Nunes do que entre os mais inclinados para Boulos.

Essa mesma leitura também é possível ser feita em relação ao Datafolha. Há uma queda de 14 pontos percentuais para Nunes entre o declarado na estimulada e o afirmado na espontânea. Em relação a Boulos, essa diferença é de apenas 4 pontos percentuais. Os eleitores de Boulos são em menor número, mas são mais convictos.

O que as duas pesquisas indicam é que quanto menor o índice de comparecimento no segundo turno, menor deve ser a diferença entre Nunes e Boulos. E o motivo é bastante simples: os eleitores de Pablo Marçal, o terceiro colocado, definitivamente não cogitam optar por Boulos. Ou marcam Nunes, ou não aparecem para votar.

O cenário mais favorável para Nunes do que para Boulos independe da polêmica levantada pela campanha do candidato do Psol em relação à pesquisa Datafolha da semana passada. O Psol ingressou com ação contra o Datafolha, alegando que o instituto fez uma ponderação dos resultados colhidos no campo usando uma metodologia que não havia sido expressamente mencionada no momento do registro do levantamento.

O Datafolha usou como critério para fazer a ponderação os resultados do primeiro turno. Alegou que não seria possível aferir migração de voto dos candidatos derrotados no último dia 6 sem usar essa variável. Como na coleta de entrevistas a quantidade de abordados que declararam voto em Pablo Marçal era muito menor do que a efetivamente registrada nas urnas, calibraram para cima esse contingente na montagem do resultado final.

Não se trata de um comportamento absurdo por parte do eleitor. Especialistas em pesquisas já comprovaram que existe uma espécie de voto envergonhado pretérito. Quem votou em candidato perdedor se sente constrangido em dizê-lo e este constrangimento aumenta com o passar do tempo. Marçal teve 19% dos votos totais e 28% dos votos válidos. Segundo a Quaest, 74% de seus eleitores dizem preferir Nunes e 13% optam por Boulos.

Uma campanha no segundo turno tende a ser um duelo de rejeições e a de Boulos é bem maior que a de Nunes, o que confere ao emedebista um favoritismo natural. O que o apagão de sexta pode ter feito foi mudar a dinâmica da campanha. Pela primeira vez desde o início do processo eleitoral o que está no centro da discussão é a qualidade da gestão de Nunes em uma situação de crise e não a imagem de seus adversários. Eleição que muda de agenda deixa de estar resolvida. Nunes ainda é favorito, mas uma reversão deixou o terreno do praticamente impossível pelo do improvável.

Um comentário:

Anônimo disse...

Quanta boa vontade com o candidato da extrema esquerda Guilherme Boulos
Como falou o jornalista nessa coluna” de baderneiro a candidato moderado “ o candidato do PSOL está sendo Graciosamente Considerado pela mídia
A rejeição de quase 60 por cento desse candidato mostra que o paulista rejeita a esquerda