Folha de S. Paulo
Torço para que o Congresso só o mude se for
para melhor
Lula surpreendeu
o mercado anunciando o
pacote fiscal e a reforma do Imposto de Renda no mesmo dia. Do
ponto de vista econômico, criou ruído em
um momento em que o quadro internacional é instável. Do ponto de vista
político, faz sentido.
O pacote fiscal trouxe medidas que sacrificam o
eleitorado pobre que venceu as últimas eleições presidenciais
com Lula e, ao fazê-lo, livrou o Brasil do autoritarismo.
Pelas novas regras, o salário mínimo vai continuar tendo crescimento acima da inflação (só no governo Bolsonaro não teve), mas crescerá mais lentamente. O abono salarial, atualmente disponível para trabalhadores que ganham até dois salários mínimos, será pago apenas para os que, após um período de transição, ganharem 1,5 salário mínimo.
Foi muito, muito difícil vender essas medidas
dentro de um governo liderado pelo partido dos sindicatos.
Era importante, portanto, mostrar para o
eleitorado de Lula que o ajuste não seria feito apenas em cima dele. A proposta
de isenção para
os que ganham menos que R$ 5.000 e de mais imposto para os que recebem acima de
R$ 50 mil foi a maneira de transmitir essa mensagem.
Afinal o Congresso não deixou que Lula
tivesse muitos sacrifícios de rico para mostrar. Se os legisladores tivessem
aprovado o fim dos subsídios empresariais, como Haddad propôs, a conta fecharia
muito mais fácil.
Por exemplo: os deputados Kim Kataguiri (União Brasil-SP),
Pedro Paulo (PSD-RJ) e Júlio Lopes (PP-RJ) apresentaram uma proposta de emenda
constitucional que faria um ajuste fiscal bem mais duro que o de Haddad. Estão
no seu direito.
Mas, em 23 de abril deste ano, o mesmo
Kataguiri foi ao X comemorar a manutenção do Perse, um
programa que Haddad tentou extinguir. O Perse foi feito para que os
empresários do setor de eventos não pagassem impostos durante a pandemia. Sim,
a pandemia que acabou faz alguns anos. Custa bilhões.
A princípio, a reforma do Imposto de
Renda não deve afetar o ajuste fiscal, nem para melhor nem para
pior.
Os cálculos do Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades (Made)
da USP sugerem que o aumento do Imposto de Renda sobre os ricos (na verdade,
uma alíquota efetiva mínima para quem ganha mais de R$ 50 mil por mês) deve
compensar a perda de arrecadação com o aumento da isenção de Imposto de Renda
para quem ganha até R$ 5.000.
Haddad disse, na entrevista em que anunciou o
plano, que a isenção para os com renda de até R$ 5.000 só passa se também
passar o aumento de imposto para os que ganham acima de R$ 50 mil. Mas o
mercado teme, com uma certa razão, que o Congresso mande o governo pastar,
aprove a isenção, mas não o aumento de imposto.
Ouvi de gente inteligente que talvez fosse
melhor aumentar menos a faixa de isenção e, ao mesmo tempo, colocar uma
alíquota mínima para os ricos ainda maior do que a proposta por Haddad.
Suspeito que estejam certos, mas que a proposta de Haddad seja o compromisso
possível entre o presidente que quer isentar mais de um lado e o Congresso que
quer taxar menos do outro.
Junto com cadeia para
golpistas, ajuste fiscal com imposto para ricos é uma das bandeiras
preferidas desta coluna. As críticas são legítimas, mas o programa de Haddad
vai na direção certa. Torço para que o Congresso só o mude se for para melhor.
Um comentário:
Depois de dois anos de gastos desenfreados, onde totalmente a contragosto Lula finalmente resolveu cortar alguma coisa, naturalmente do lombo do povo, senão ele não se elege de maneira nenhuma.daqui a dois anos, o sociólogo diz que se algo der errado a culpa não são deles, é do congresso, do qual esse mesmo colunista já esculhambou dezena de vezes, é são eles mesmo que a daqui a dois anos vão vir pedir nossos voto, vão esperando pra ver o resultado.....
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