sexta-feira, 2 de março de 2012

PMDB afirma viver 'encruzilhada' com PT

Temer autoriza manifesto antipetista para reforçar insatisfação com troca em ministério e espaço dado a outras siglas

Catia Seabra e Maria Clara Cabral

BRASÍLIA - Depois do PR e do PDT, ontem foi a vez de o principal partido da base aliada ameaçar se rebelar. Com o aval do vice-presidente Michel Temer, o PMDB apresentou um manifesto de deputados contra a "hegemonia" do PT.

Incomodado com a generosidade do governo para a construção de um palanque sólido para Fernando Haddad em São Paulo, o comando peemedebista apresentou sua fatura ao governo Dilma. Enviado ao Planalto na tarde de ontem, o texto preocupou a equipe da presidente.

O estopim da crise foi a nomeação do senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) para a Esplanada sem que Temer tivesse sido avisado da escolha.

Informado sobre um movimento de um pequeno grupo de deputados, Temer não deteve a rebelião, o que permitiu a adesão de seus aliados.

No documento, o grupo diz que a relação entre os dois partidos é "desigual e injusta" e que vive em uma "encruzilhada, onde o PT se prepara, com ampla estrutura governamental, para tirar do PMDB o protagonismo municipalista no país".

Uma das reclamações é a de que os peemedebistas têm ministérios sem importância.

O manifesto conta, até agora, com 45 assinaturas, mas outros congressistas, incluindo o líder Henrique Alves (RN), ameaçam endossar o movimento. A atual bancada do partido na Câmara é de 76 deputados em exercício.

Recentemente, em entrevista à Folha, Alves desafiou o Planalto a demitir um de seus aliados de um cargo de segundo escalão, o que aconteceu no dia seguinte.

O manifesto foi redigido na noite de anteontem, dia da indicação de Crivella para o Ministério da Pesca. Na mesma noite, a cúpula do PMDB se reuniu na casa de Temer para discutir a candidatura do deputado federal Gabriel Chalita à Prefeitura de São Paulo. Segundo um dos presentes, o partido está cansado da relação com o PT.

Ainda de acordo com participantes do jantar, a avaliação foi que o desprendimento do governo em favor de Haddad é tamanho que, a partir de agora, Temer estará mais à vontade para trabalhar por Chalita. Para os peemedebistas, a candidatura de Chalita é irreversível.

O diagnóstico foi o de que a candidatura de José Serra tem impacto negativo sobre a campanha de Chalita. Mas neutraliza a pressão de Dilma e Lula para que o PMDB desista da chapa própria.

Agora, peemedebistas defendem que a insatisfação seja reforçada na votação do Código Florestal, na semana que vem. O mesmo sinal já foi dado por outros partidos da base, como o PSB. Na votação da criação do fundo de previdência complementar, anteontem, 17 dos 26 votantes do partido foram contra o governo.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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