O Brasil é um dos poucos países com base na Antártida. Ao longo de mais de 20 anos tem mantido de forma permanente grupos de cientistas e militares que se revezam, tentando entender aquele continente e as consequências de seu clima para o futuro do Planeta. Ali são feitas pesquisas sobre a vida marinha em baixas temperaturas, sobre fontes de alimentos de micro-organismos, pesquisas sobre as mudanças climáticas e inclusive sobre recursos naturais disponíveis. Além disso, ali o Brasil mostra que aceita desafios. Não temos como enviar uma tripulação ao espaço sideral, mas não fugimos de ter nossa base na Antártida e de sentirmos orgulho por isso.
Esta Estação Comandante Ferraz tem custado um enorme esforço às nossas Forças Armadas, especialmente à Marinha e à Aeronáutica, e tem atraído apoio de diversos setores entre os quais uma Frente Parlamentar de Apoio ao Programa Antártico Brasileiro (ProAntar), como é conhecido o programa, que sempre contou com o apoio do Congresso Nacional, desde 2007.
Mais de 52 senadores e 120 deputados fazem parte dessa Frente, todos dispostos a prestar o apoio indispensável para que, tanto às atividades de pesquisa quanto a logística da presença brasileira no Continente Antártico tenham condições de se desenvolver a contento. Para isso, a Frente Parlamentar tem mantido contato com os órgãos que conduzem os processos inerentes aos trabalhos científicos desenvolvidos na Antártida, especialmente com os Ministérios da Ciência e Tecnologia e do Meio Ambiente e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.
De repente, ainda não sabemos por que um incêndio com explosão, provavelmente no depósito de combustível, transformou a nossa base e os nossos dados das pesquisas em cinzas. Visitei duas vezes a Antártida, em uma delas foi possível ir ate a Estação. Muitos vibram com a seleção de futebol, eu vibrei ao posar com uma bandeira ao lado dos cientistas e militares naquele ponto extremo do planeta, sabendo que estava em território brasileiro e ao lado de pesquisadores brasileiros. Há anos sou presidente da Frente Parlamentar ProAntar e talvez por isso tenha sido informado logo no início e certamente devo ser um dos que mais sentem o drama do que estamos vivendo. A morte de dois militares, além de ferimentos em outro, e a destruição das pesquisas, salvo aquelas já compartidas pela internet, deixou-me com a sensação de uma imensa tragédia para o Brasil, embora em um ponto tão distante. Ao mesmo tempo despertou a vontade de fazer tudo o que for possível para ajudar na recuperação daquele nosso território científico. Emenda de minha autoria ao Orçamento da União deste ano, mesmo sendo de pequeno valor – R$ 500 mil – pode colaborar para o início imediato da reconstrução da Estação Comandante Ferraz.
A partir desta semana, a Marinha já começa a entender o que houve e a fazer os trâmites para reconstruir a Estação Comandante Ferraz. Estamos certos que não serão poupados esforços de todos nós e do governo brasileiro para que, em breve, todo o trabalho de pesquisa possa ser retomado e o Brasil possa mostrar que teve uma Base, mas que já tem uma outra nova construída.
O custo disso será quase nada se comparado com os custos com a Copa do Mundo, as Olimpíadas e o trem bala. E, com certeza, muito mais resultados positivos para o orgulho nacional e para as pesquisas mundiais. Trata-se de refazer um orgulho brasileiro.
Cristovam Buarque é professor da UnB e senador pelo PDT-DF
FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)
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