sábado, 12 de outubro de 2013

5 movimentos de um acordo - Leonardo Cavalcanti

A união que revelou uma nova ordem eleitoral e desconcertou petistas e tucanos ainda é vista com reservas, principalmente pela fragilidade da relação entre Eduardo Campos e Marina Silva

Depois de uma semana do desconcertante acordo entre Marina Silva e Eduardo Campos, cinco movimentos podem ser percebidos no xadrez montado pelos dois ex-ministros do governo Lula. Até agora, o jogo se desenvolve de forma contida, como se para evitar rupturas logo no início. Enquanto o governo e o PT ainda não entenderam nada, os tucanos — os primeiros perdedores com a aliança — simplesmente se recolheram. Resta avaliar os riscos e os acertos de Marina e Eduardo. A eles:

1. Eduardo Campos orgulha-se de ser visto como um estrategista político, por mais que admita não ter previsto em momento algum a união com Marina. A ex-senadora, por sua vez, é vaidosa e gosta de deixar claro a independência. Qualquer desconfiança na relação nos próximos meses deve colocar tudo a perder. E isso pode ocorrer mais por divergências pessoais do que propriamente contradições políticas ou ideológicas, pelo menos é o que integrantes do PSB temem — e os governistas torcem.

2. Por mais que os dois neguem qualquer tensão na escolha da cabeça de chapa, em algum momento isso deve ocorrer, afinal, entre os aliados de primeira hora de Marina, há gente que não se conforma com o fato de ela ficar de coadjuvante. O PSB torce que, quando esse momento chegar, Eduardo tenha ganhado musculatura e aumentado os atuais índices de intenção de votos. Os petistas, evidentemente, acompanham esse jogo de longe, torcendo para que tal disputa não termine tão cedo.

3. É inquestionável que o grande ganhador na aliança é Eduardo, que, na pior das hipóteses, passou a ter mais importância nas eleições se comparado ao momento anterior ao acordo com Marina. No caso da ex-senadora, a história é outra. Vice na chapa, Marina só ganha se Eduardo for vencedor. Derrotada, terá o desafio de quebrar o tabu da maldição dos vices em busca de significância após as eleições. Aqui, basta ver o exemplo das chapas de Lula em 1989 (Bisol), 1994 (Mercadante) e 1998 (Brizola).

4. A busca de Marina por Eduardo ocorreu quando a ex-senadora estava nitidamente irritada com o PT. Ela queria não apenas arrumar uma saída para as eleições, mas também dar uma resposta à altura aos petistas. Ao longo da semana, Marina não parou de fazer referências a uma declaração do marqueteiro João Santana à revista Época, prevendo que, em 2014, existiria a "antropofagia de anões", numa referência à oposição. Em todas entrevistas e discursos, ela fez questão de citar a "união dos anões". A raiva nunca foi boa conselheira, por mais que tenha mudado radicalmente o cenário eleitoral.

5. Por mais que Eduardo e Marina se esforcem a mostrar a harmonia e a construção de uma aliança programática, as declarações da ex-senadora reforçando que não é militante do PSB apenas revelam que o partido serviu de uma legenda de aluguel. Não? Pois faça um exercício e troque os personagens. Em vez de Marina e Eduardo, dois caciques do Congresso ou da Câmara Legislativa. Seria ou não aluguel? Marina, com toda a força do discurso, não consegue mudar o nome da politicagem. Se tal coisa vai fazer alguma diferença na capacidade de votos da ex-senadora, isso fica para a próxima coluna.

Estresse
O momento mais tenso da noite de sexta-feira da semana passada, durante a reunião entre Eduardo e Marina, foi quando um militante da Rede informou à ex-senadora que o encontro dela com Roberto Freire, do PPS, marcado para a manhã seguinte, tinha vazado para a imprensa. Irritada com a notícia, Marina disse rispidamente que cancelaria a agenda de sábado com o deputado. Naquele momento, os interlocutores do PSB temeram pelo próprio acordo fechado com a ex-ministra. Tudo poderia ir por água abaixo caso alguma nota nos jornais fosse publicada antes mesmo do anúncio oficial da aliança do PSB com Marina. Chegaram mesmo a imaginar estar com uma sacola de votos reciclados na mão e, por uma reação intempestiva da ex-senadora, perder tudo por causa de simples comentários nas redes sociais ou nos jornais do dia seguinte. A tranquilidade só voltou depois que um dos assessores de confiança de Marina a convenceu de manter a reunião com Freire, mesmo com o vazamento para a imprensa.

Fonte: Correio Braziliense

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