- Folha de S. Paulo
Com menos de dois anos de papado, o argentino Jorge Mario Bergoglio produziu seu primeiro milagre: intermediou a reaproximação histórica entre Estados Unidos e Cuba. A participação de Francisco não se limitou a palavras de incentivo, como reconheceram Barack Obama e Raúl Castro. Ele pressionou pela libertação de presos políticos nos dois países e abriu o Vaticano para a última reunião dos negociadores.
O anúncio de ontem coincidiu com o aniversário do papa, que comemorou 78 anos de idade. Modesto, ele promoveu audiência na praça São Pedro, brincou com os casais que dançariam tango em sua homenagem e se recolheu, deixando os louros do dia para os líderes políticos. Coube à Santa Sé registrar, em nota, a sua "viva satisfação" com a notícia.
Se o papel de Francisco na modernização da igreja ainda está sendo escrito, sua atuação diplomática já pode entrar nos livros de história. O impulso para o reatamento das relações entre EUA e Cuba foi o avanço mais expressivo, mas não o único. Só neste ano, ele quebrou o gelo com a China ao escrever para Xi Jinping e uniu os presidentes de Israel, Shimon Peres, e da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, em oração pela paz no Oriente Médio.
A ação do papa ajudará a melhorar as biografias de Obama e Castro. O presidente americano ainda não havia dado motivos concretos para justificar o prêmio Nobel da Paz que recebeu há cinco anos. O irmão de Fidel, por sua vez, vinha decepcionando quem apostava nele para conduzir a abertura política na ilha.
A primeira viagem de Francisco aos EUA está programada para setembro de 2015. Até lá, é possível que ele ajude a arrancar novos avanços, como o fim da tortura em Guantánamo e a suspensão do embargo a Cuba. Se fizer escala em Havana, poderá testemunhar o restabelecimento de eleições livres e das garantias individuais. Como escreveu Brecht e lembrou o noticiário de ontem, nada deve parecer impossível de mudar.
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