quarta-feira, 6 de maio de 2015

Míriam Leitão - Comércio na balança

- O Globo

O déficit da conta de petróleo diminuiu em US$ 3,1 bilhões nos primeiros quatro meses do ano, pelo aumento das exportações do óleo e pela queda das importações. Elevou-se também o volume das vendas de minério de ferro, produto que teve grande queda de preço. A alta do dólar ainda não está fazendo efeito em estimular exportações, e uma das causas é a forte volatilidade da moeda.

O comércio externo teve pequeno superávit em abril, e a Associação de Comércio Exterior (AEB) continua prevendo um saldo positivo no ano, segundo José Augusto de Castro. Para ele, o efeito benéfico do câmbio demora de seis meses a um ano para estimular as vendas externas e, neste momento, o sobe e desce da moeda reduz o ganho que poderia haver . Abalança comercial brasileira sente os efeitos da queda dos preços das matérias -p rimas e da dificuldade do país de alavancar as vendas de produtos industriais. As importações caem, refletindo o menor apetite por consumo e investimentos. De janeiro a abril, o saldo da balança comercial está negativo em US$ 5 bilhões. Este ano , está caindo tudo: exportação (-16,4%), importação (-15,9%), e, consequentemente, a corrente de comércio (-16,1%), que voltou ao nível mais baixo desde 2010.

Regredimos cinco anos no comércio com o exterior. O maior impacto nas exportações está na queda do preço das commodities. O minério de ferro perdeu 50% do valor este ano , e é nosso principal produto. Já a soja, o segundo da lista , ficou 20% mais barata. Com isso , a receita com exportação de minério de ferro , em dólares , ficou 45% menor , enquanto a de soja caiu 41%. Mas isso não explica tudo . As exportações de produtos manufaturados encolheram 11% de janeiro a abril, mesmo com a desvalorização do real, que torna os produtos brasileiros mais atrativos no exterior . As vendas caíram de US$ 24,6 bilhões para US$ 21,8 bi. Uma perda de US$ 2,8 bilhões em quatro meses. José Augusto de Castro explica que a indústria exportadora ficou menos competitiva este ano , mesmo com o real mais fraco.

Houve aumento de preços na energia elétrica, mudanças de regras na contribuição da folha de pagamento, e cobrança de PIS e Cofins nas operações de hedge cambial. O ajuste fiscal também prejudicou as operações do Proex, um programa do Governo Federal que ajuda a diminuir custos . Alista é longa, pela explicação de Castro. O dólar não parou no lugar , e, na dúvida, exportadores fecham contratos com uma cotação mais conservadora. Além disso, a América Latina, que compra 50% dos nossos produtos industriais , também sente o efeito da queda das matérias -p rimas e está com menor poder de compra: —Este era o momento de vender mais para os Estados Unidos , que são o principal mercado comprador de manufaturas do mundo. Mas nossas relações comerciais com eles se enfraqueceram nos últimos anos e, de janeiro a abril, vendemos 5,7% a menos.

O gerente-executivo de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco, lembra que várias outras moedas pelo mundo perderam valor . Ou seja, nossos principais concorrentes também tiveram esse ganho cambial, não só a indústria brasileira. A queda de 32% nas importações de combustíveis e lubrificantes é um dos motivos para a redução do déficit da conta petróleo , de US$ 7,4 bilhões, de janeiro a abril de 2014, para US$ 4,3 bilhões, no mesmo período deste ano. Isso reflete o ritmo menor da economia, com a forte retração das vendas de carros e o menor fluxo de caminhões nas estradas , que reduziram o consumo de combustíveis. Mas também houve um forte aumento das exportações de petróleo , em volume , que praticamente dobraram: 94,6%, no período.

José Augusto de Castro prevê um saldo positivo na balança comercial deste ano , porque as importações vão cair mais do que as exportações: —Será um falso positivo , porque o motivo para o número azul ser á ruim , com queda mais in tensa das importações. Avalio que as importações estão caindo até agora pela redução do consumo e ainda vão cair mais pelo dólar mais caro . Esse efeito ainda vai ficar mais forte ao longo do ano — explicou. Com a queda do consumo in terno e dos investimentos , aumentar as exportações é uma das poucas saídas para o país voltar a crescer .

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