• Laudo afirma que mensagens apreendidas com Marcelo Odebrecht teriam por objetivo influenciar êxito na celebração de contratos com a Petrobrás
Ricardo Brandt, Fausto Macedo e Julia Afonso – O Estado de S. Paulo
CURITIBA - Análise da Polícia Federal de troca de e-mails entre o presidente da Construtora Norberto Odebrecht, Marcelo Bahia Odebrecht, e executivos do grupo indicam suposta tentativa da maior empreiteira do País de apresentar propostas com preços elevados em contratos de navios-sonda para a Petrobrás. As mensagens citam os nomes do ministro-chefe da Casa Civil Aloizio Mercadante (PT-SP) e do ex-presidente da estatal José Sérgio Gabrielli como contatos políticos da empreiteira alvo da Operação Lava Jato nas negociações.
Na ocasião da troca de e-mails de Odebrecht, em 2011, Mercadante ocupava o cargo de ministro da Ciência e Tecnologia. "Foram identificadas, por parte do Grupo Odebrecht, especialmente do executivo Marcelo Odebrecht, ações com o objetivo de exercer influência política para obtenção de êxito na celebração de novos contratos com a Petrobrás", conclui o laudo. Em e-mail de 7 de janeiro de 2011 Marcelo Odebrecht escreve que é preciso "ter cuidado com a reação de Estrela (Guilherme Estrela, ex-diretor da Petrobrás) e equipe" pela "pressão".
"Junto ao Estrela vejo importante a conversa de vocês (importante saber tb feedback conversa Mercadante - me acionem se não conseguir obter do Luiz Elias). Posso também pedir a Mercadante um reforco", afirmou o empreiteiro na mensagem. "Por fim tem o próprio Gabrielli como ultima tentativa, que poderia fazer. Ele não gosta da gente (Suzano, Quattor, sondas), mas a tese é boa e talvez quem sabe?"
O laudo tem 19 páginas. O documento anexado aos autos da Lava Jato analisa material apreendido com Marcelo Odebrecht e o executivo Roberto Prisco Ramos na 14a fase da operação em 19 de junho. Nas conversas entre 2010 e 2011, que incluem dois outros executivos presos da empreiteira, Rogério Araújo e Márcio Farias, o tema tratado é os sete contratos de navios-sonda usados nos campos do pré-sal. Os contratos foram fechados em 2011 com a Sete Brasil - empresa criada pela Petrobrás, com fundos e bancos para fornecer 29 equipamentos, pelo valor total de US$ 22 bilhões para a estatal.
Delatores da Lava Jato afirmaram que os contratos envolveram propina de 1% destinada ao esquema de corrupção na estatal, via PT. O Estaleiro Atlântico Sul (EAS), do Grupo Odebrecht, foi um dos contratados. Atual chefe da Casa Civil, Mercadante disse que como ministro da Ciência e Tecnologia na época "sua única questão referente à Petrobrás foi a construção do navio de pesquisa oceanográfica".
Defesas. Segundo ele, "este tema foi tratado com o presidente da Petrobrás José Sérgio Gabrielli, com o então diretor de Exploração e Produção, Guilherme Estrella".
"A Odebrecht Braskem defendia a construção em estaleiro nacional, mas não era adequado dada a complexidade tecnológica do projeto. A Odebrecht não participou do projeto e, portanto, não faz parte do consórcio que administrará o navio", afirmou. O ministro disse ainda que em sua atividade pública, manteve relação institucional com o presidente da Odebrecht e jamais tratou "de qualquer assunto de interesse particular da empresa" com a Petrobrás.
Gabrielli disse o material divulgado nem "sequer levanta qualquer dúvida". A Odebrecht sustenta que o relatório da Polícia Federal "presta um desserviço à sociedade e confunde a opinião pública ao estabelecer suposições a partir de email de Marcelo Odebrecht, quando deveria ater-se a fatos concretos". A empresa diz que repudia "a intenção de atribuir ao seu diretor-presidente pretensas intenções extraídas de raciocínios especulativos, com o objetivo claro de prolongar prisão que, como a dos demais executivos".
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