• Petista tentou mudar votos, mas não apresentou novos argumentos
Presidente afastada insiste na versão do ‘golpe’, e senadores dizem que a presença dela derruba a tese
Na véspera do julgamento final do impeachment, Dilma Rousseff fez ontem sua defesa no Senado, provavelmente no último discurso como presidente. A petista repetiu que é vítima de um “golpe”, culpou o deputado Eduardo Cunha pela abertura do processo e emocionou-se ao comparar a ação à perseguição sofrida na ditadura. Mas, sem apresentar novos argumentos, a avaliação dominante, inclusive no PT, é a de que não foi suficiente para reverter o placar desfavorável a ela. “A esta altura, acho muito difícil que ainda haja alguém indeciso a ponto de mudar de ideia”, admitiu o líder do PT, Humberto Costa. Ao lado dos presidentes do STF, Ricardo Lewandowski, e do Senado, Renan Calheiros, Dilma afirmou: “Só temo a morte da democracia.” O ex-presidente Lula assistiu da galeria, ao lado de Chico Buarque. No plenário, Dilma e Aécio Neves, tucano derrotado por ela em 2014, fizeram debate amistoso.
O último ato
• Em discurso, presidente afastada, Dilma Rousseff, não consegue reverter votos para mudar panorama no julgamento de hoje, avaliam aliados e adversários
- O Globo
BRASÍLIA - Em uma sessão que durou mais de 12 horas, a presidente afastada, Dilma Rousseff, fez ontem seu último discurso antes do julgamento final do impeachment e, possivelmente, também sua derradeira fala como presidente da República. Com um tom emotivo e com forte teor político, o discurso de Dilma foi elogiado por alguns senadores que ainda resistiam em declarar seus votos publicamente, mas, no próprio PT, a avaliação era que não funcionaria para alterar o placar de hoje.
O presidente interino, Michel Temer, por sua vez, preferiu agir como se nada de extraordinário ocorresse no Congresso. Do outro lado da Praça dos Três Poderes, no Palácio do Planalto, Temer recebeu atletas olímpicos e provocou risos ao vestir uma touca de polo aquático. E demonstrou pouco interesse pelo discurso de Dilma, afirmando que não teve tempo de acompanhar porque ficou “trabalhando nos despachos”. Temer chegou a telefonar para senadores aliados para saber como estava o clima na sessão e demonstrou angústia com a possibilidade de não tomar posse a tempo de viajar à China na manhã de quarta-feira.
Sua tranquilidade pareceu ser justificada após ouvir a impressão de parlamentares de que o discurso de Dilma Rousseff não trouxe grandes surpresas e que a margem para uma reviravolta no esperado resultado pró-impeachment era mínima. A mesma avaliação fizeram petistas, que destacaram, no entanto, a importância da fala da petista para a construção da narrativa do “golpe”:
— A esta altura, acho muito difícil que ainda haja alguém indeciso a ponto de mudar de ideia. Mas a presidente deu um tom político que foi importantíssimo, porque estamos na disputa pela versão dos fatos. Historicamente, é fundamental — disse o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE).
A própria presidente reconheceu a dificuldade, indiretamente, em seu discurso, ao dizer que, apesar de estar presente para se defender, isso em nada mudaria o resultado. Ao final, a presidente afastada disse que, caso perca, recorrerá ao Supremo Tribunal Federal (STF) após o processo, que considerou “ilegítimo”, apesar da presença do presidente da Corte, o ministro Ricardo Lewandowski, no comando da sessão.
— Não há respeito ao devido processo legal quando julgadores afirmam que a condenação não passa de uma questão de tempo, porque votarão contra mim de qualquer jeito. Nesse caso, o direito de defesa será exercido apenas formalmente — disse Dilma.
Golpe foi uma palavra que Dilma usou em diversos momentos. Somente em seu discurso, foram nove vezes. A presidente afastada, que lembrou as sevícias que sofreu durante a ditadura militar, negou que tivesse cometido crime de responsabilidade e fez alusão a momentos históricos distintos em que houve ruptura democrática para comparar à sua situação. Assim como os ex-presidentes Getulio Vargas, Juscelino Kubitscheck e João Goulart, Dilma se colocou como vítima de reação de “setores da elite econômica e política” que tiveram interesses feridos com sua reeleição. Curiosamente, o único presidente desde a redemocratização alvo de impeachment no Brasil antes dela, Fernando Collor, afastado em 92 envolvido em denúncias de corrupção, não foi citado em seu discurso.
Na plateia de convidados, além de aliados e ex-ministros, Dilma contou com a presença de um visivelmente abalado ex-presidente Lula e de um sonolento Chico Buarque, presentes para demonstrar solidariedade. Do lado de fora do Congresso, um número de manifestantes bastante inferior ao que se viu no início do impeachment, um retrato da desmobilização nesta reta final do processo.
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