terça-feira, 30 de agosto de 2016

Previsível, discurso de Dilma não deve mudar impeachment - Leandro Colon

- Folha de S. Paulo

A visita de Dilma Rousseff ao Senado parece ter sido incapaz de virar o jogo do impeachment.

Previsível e sem novidades, o discurso da petista não deve ter impacto no cenário a favor de seu afastamento definitivo.

Dilma não surpreendeu. Suas palavras neste 29 de agosto entram para os anais do Senado como um registro histórico de alguém que, diante de uma derrota iminente, quis deixar marcada sua versão.

Ao subir à tribuna para o que talvez tenha sido seu último discurso como presidente, Dilma sabia da limitação na capacidade de reverter votos, mesmo com o reforço de Lula e Chico Buarque na arquibancada.


Se não conseguiu convencer senadores em pouco mais de 100 dias, não seria agora, na véspera da votação final, que lograria êxito.

Dilma manteve os mesmos tom e conteúdo de entrevistas e declarações dadas por ela desde que foi afastada em 12 de maio.

Erros? Foi discreta e econômica ao confessá-los, bem ao estilo Dilma de reconhecer falhas publicamente: "Como todos, tenho defeitos e cometo erros". A palavra "erros", aliás, foi mencionada só duas vezes e "humildade", uma.

Dilma destacou seu sofrimento na ditadura militar e disse ser honesta, vítima de uma elite e da chantagem de Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

"Exigia aquele parlamentar (Cunha) que eu intercedesse para que deputados do meu partido não votassem pela abertura do seu processo de cassação".

Abordou com discrição os principais elementos da acusação que sofre no Senado: a edição de decretos de crédito suplementar sem aval do Congresso e as chamadas "pedaladas fiscais".

A deferência ao ex-presidente Lula foi tímida, apenas no contexto de que ambos, na cadeira presidencial, deram "condições" para que investigações sobre corrupção fossem realizadas, segundo as palavras da petista.

A expressão "Lava Jato" ficou de fora. Classificando o governo de Michel Temer de "usurpador", repetiu que o impeachment será a consumação de um "golpe".

Dilma criticou a ausência de mulheres e negros no ministério de Temer e atacou, sem citar o nome de Aécio Neves (PSDB-MG), o "candidato derrotado" nas eleições de 2014.

A petista comparou-se aos ex-presidentes Getúlio Vargas, Juscelino Kubitscheck e João Gourlart.

Na plateia estava Fernando Collor, hoje senador e presidente cassado em 1992.Apesar das investidas de Dilma, Collor deve votar pelo impeachment.

O clima no Senado depois do discurso dela era de fim de festa: senadores contra e pró-impeachment exaustos e com sentimento de cumprimento de tabela à espera da votação.

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