Más consequências começaram a surgir logo depois de anunciado pelo presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia, o adiamento da votação da reforma da Previdência, agora prevista para fevereiro. Mais um fator de insegurança foi acrescentado ao cenário, num momento de enorme importância para a consolidação da nova fase de crescimento, depois de uma longa e severa recessão. O primeiro golpe veio numa nota distribuída pela Moody’s, uma das principais agências de classificação de risco. O adiamento é fator negativo para o crédito brasileiro, afirmou o vice-presidente e analista sênior Samar Maziad em comentário escrito.
Segundo ele, a decisão torna menos provável a aprovação do projeto, por causa das incertezas quanto à eleição presidencial. Com isso, aumentam as preocupações quanto à capacidade do governo de manter os gastos abaixo do teto constitucional e de cuidar das “tendências fiscais adversas”. Essas tendências, lembrou, “têm gerado uma persistente deterioração do perfil de crédito do País nos últimos anos”.
Com essa observação, ele recordou de forma sumária o desastre ocorrido no fim do governo da presidente Dilma Rousseff: as três maiores agências de avaliação de crédito – a Moody’s, a Standard &Poor’s e a Fitch – cortaram a nota brasileira duas vezes, criando problemas para o Tesouro Nacional, para as estatais e até para empresas privadas de boa reputação financeira.
Horas antes do anúncio do adiamento, membros da equipe econômica do governo e representantes do setor privado lembraram a importância do programa de reformas para a nova fase de crescimento.
Com a modernização da Previdência, a economia brasileira poderá crescer mais de 3% em 2018, segundo a nova projeção do Ministério da Fazenda, apresentada ontem. “Novo ciclo de expansão exige persistência nas reformas”, destacam os técnicos da Confederação Nacional da Indústria (CNI), na abertura de seu novo informe conjuntural, um balanço de 2017 acompanhado de um cenário prospectivo do próximo ano.
Algumas estimativas podem variar de um estudo para outro, mas a defesa de mudanças fundamentais, especialmente na Previdência e no sistema tributário, é um importante ponto comum. Os mesmos economistas, autoridades e dirigentes de instituições empresariais poderiam lembrar dois avanços conseguidos em 2016: a reforma trabalhista e a criação de um teto constitucional para o gasto público. Bons efeitos dessas mudanças e da nova política econômica já foram contabilizados com o início de recuperação econômica.
O Brasil deve fechar o ano com crescimento de 1,1%, segundo os novos cálculos do Ministério da Fazenda. Isso é pouco mais que o dobro da estimativa anterior, de 0,5%.
Para 2018 a projeção básica subiu de 2% para 3%, com viés de alta se for aprovada a reforma da Previdência e de baixa, no caso contrário.
Na primeira hipótese a economia poderá crescer 3,3%. Na segunda, 2,85%. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, admitiu, no entanto, ser difícil medir, neste momento, o efeito de uma rejeição do projeto da Previdência, mas certamente, acrescentou, haverá impacto negativo em 2018 e também nos anos seguintes.
Pelas novas estimativas da CNI, o Produto Interno Bruto (PIB) deve crescer 1,1% em 2017, com 0,2% de expansão da indústria. Os novos cálculos apontam para crescimento econômico de 2,6% e aumento de 3% para o produto industrial em 2018. Mas a nova tendência, lembram os autores do relatório, só se sustentará com investimentos na capacidade produtiva. Isso dependerá de confiança e de melhores condições de funcionamento da economia e, portanto, de reformas de grande alcance, insistem os técnicos e dirigentes da CNI. A primeira reação do mercado, pouco depois da declaração do deputado Rodrigo Maia, já refletiu a inquietação quanto à reforma e ao risco de novo rebaixamento da nota brasileira. A chamada base governista poderia ter livrado o País desses perigos. Os partidos ditos aliados teriam votos para aprovar a reforma. Mas para isso seus integrantes, e especialmente seus líderes, precisariam mostrar responsabilidade e algum espírito público.
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