quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Nilson Teixeira: Quadro político incerto por algum tempo

- Valor Econômico

Resultado pode se tornar ainda mais incerto se o apoio dos maiores partidos não for para candidatos do PT e PSDB

A minha última contribuição para esta coluna em 2017 assinalou que a eleição presidencial de 2018 será determinante para a consolidação fiscal. De fato, essa importância será ainda maior, pois será crucial também para a trajetória dos fundamentos da economia nos próximos anos. Nesse sentido, o assunto deste meu primeiro texto em 2018 não poderia ser outro que não o pleito deste ano.

A eleição de 2018 terá menos recursos ante a de 2014 em virtude da proibição de doações de empresas. As despesas registradas pelos candidatos à Presidência em 2014 somaram R$ 652 milhões, valor correspondente a 13% dos gastos declarados com as campanhas em todos os níveis. Supondo que as doações individuais continuarão insignificantes como nas eleições passadas, o gasto nas campanhas presidenciais em 2018 não será, provavelmente, muito superior a R$ 300 milhões, dados os R$ 2,588 bilhões alocados nos fundos públicos.

Esse ambiente de menos recursos aumenta a incerteza quanto ao resultado das eleições de 2018 e eleva a importância das coligações partidárias frente aos pleitos anteriores - seja para aumentar o tempo de propaganda na televisão e no rádio, seja para garantir maior apoio local na campanha presidencial.

O PSDB e o PT precisarão angariar apoio dos principais partidos políticos, em particular dos maiores, para manter a polarização observada desde 1994. Enquanto o tempo médio de propaganda diária na televisão e no rádio do PT e do PSDB será de, respectivamente, 5'13" e 4'11", os outros seis maiores partidos (MDB, PP, PSD, PR, PSB e DEM) terão 18'12". Isso confirma o quão imperativa será a construção de coligações.

Apesar da recente disseminação das redes sociais, a propaganda na televisão será um instrumento muito relevante para a construção da imagem dos candidatos à Presidência. Pesquisa do Ibope atesta que 69% dos eleitores utilizam a televisão como principal fonte de informação sobre política, enquanto sites de notícias, mídias sociais, jornais e rádios são citados por, respectivamente, 24%, 22%, 19% e 17% dos entrevistados.

Por outro lado, a pesquisa sugere que 36% dos entrevistados atribuem à internet e às redes sociais muita influência na escolha do candidato à Presidência em 2018. Esse resultado é compatível com o segundo lugar - em praticamente todas as pesquisas eleitorais - do deputado Jair Bolsonaro, candidato mais presente nas redes sociais.

A estrutura partidária local também será mais relevante do que no passado. Será importante obter o apoio do MDB, PP, PSD, PR, PSB e DEM, que têm forte presença local e respondem, hoje, por 54% dos senadores, 48% dos deputados federais, 48% dos governadores, 41% dos deputados estaduais, 55% dos prefeitos e 48% dos vereadores.

No entanto, há vários entraves para a construção rápida de coligações. Haverá mais tempo do que nas eleições passadas para que os partidos definam os seus candidatos - o prazo de registro das candidaturas termina apenas em 15 de agosto. Isso dificultará, por exemplo, o aumento das intenções de voto no governador Geraldo Alckmin nos primeiros meses do ano.

A formação das coligações também tende a ser postergada, devido à dinâmica da aprovação do governo e ao consequente impacto sobre o seu candidato. Apesar de improvável, não é possível descartar que o aumento gradual dessa aprovação em 2018 seja expressivo. Nesse caso, é razoável supor que o presidente Michel Temer seria o candidato do MDB e, provavelmente, de alguns partidos da base aliada, o que enfraquece a esperança de sucesso de qualquer outro candidato que queira representar o governo nas eleições. Por outro lado, se a aprovação do governo não crescer muito, sua defesa não será uma plataforma de sucesso.

A formação das coligações poderá ser mais rápida se os partidos avaliarem que o padrão histórico de aumento das intenções de voto em candidatos à Presidência não mudará muito. A mediana do maior ganho de intenções de voto nas últimas sete eleições presidenciais foi de 14 pontos percentuais (pp) entre a primeira pesquisa em um ano eleitoral e a última antes do primeiro turno. A maior alta ocorreu nas eleições de 1994, de 27 pp do então candidato Fernando Henrique Cardoso. Como essa forte elevação deveu-se aos resultados extraordinários do Plano Real, não consigo vislumbrar um crescimento similar nas intenções de voto em um candidato do atual governo.

A provável postergação na construção das coligações partidárias também está associada à confirmação da candidatura do ex-presidente Lula. Não haverá certeza sobre sua presença entre os candidatos até meados do ano. Dada a dianteira do ex-presidente em todas as pesquisas eleitorais e a sua grande popularidade em vários Estados do país, a viabilidade da sua candidatura influenciará a decisão de vários partidos sobre as coligações a serem formadas.

Esse ambiente é propício para que não haja grandes alterações até meados do ano nas intenções de voto nos candidatos já lançados. Isso pode estimular candidaturas que não participaram do jogo político até agora, como a do ex-ministro do STF Joaquim Barbosa e a do empresário e apresentador Luciano Huck, mais associadas ao espectro político de centro. O problema é que essas candidaturas também estarão sujeitas à construção de coligações amplas para terem tempo de propaganda e presença local suficientes.

Em suma, vários fatores conspiram para que o cenário político permaneça obscuro até o início do segundo semestre. O resultado eleitoral poderá se tornar ainda mais incerto se os maiores partidos apoiarem outras candidaturas que não a do PT ou a do PSDB. Isso elevaria muito a fragmentação política e tornaria ainda menos previsível quais os candidatos que disputarão o segundo turno. Dependendo do ambiente externo, essa incerteza agregará bastante volatilidade aos preços de mercado e, provavelmente, será assunto recorrente nesta coluna em 2018.

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