segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Revelações do caso Queiroz elevam tensão no Planalto

Auxiliares temem que não seja possível isolar o presidente das suspeitas sobre Flávio Bolsonaro, que diz que dinheiro era de negociação de imóvel

As revelações da coluna de Lauro Jardim e da TV Globo de que o Coaf registra movimentação financeira suspeita nas contas do senador eleito Flávio Bolsonaro (PSLRJ) e de seu ex-assessor na Alerj Fabrício Queiroz elevaram a tensão no Palácio do Planalto. Auxiliares passaram a temer que não seja possível isolar o presidente das denúncias envolvendo seu filho mais velho. Em entrevista à TV Record ontem, Flávio alegou que os R$ 96 mil depositados em espécie em sua conta em 2017 eram parte do pagamento da venda de um apartamento. E disse que o título da Caixa no valor de R$ 1 milhão era referente à quitação da compra do mesmo imóvel. “Não tem sacanagem comigo”, afirmou. Ele se queixou de suposta quebra de sigilo bancário, mas o entendimento do STF é que o Coaf pode passar informações para o Ministério Público sem ordem judicial.

Agravamento do caso Queiroz preocupa Planalto

Jussara Soares, Vinícius Sassine e Daniel Gullino | O Globo

BRASÍLIA – A informação de que Fabrício Queiroz, ex-assessor do deputado estadual e senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), movimentou R$ 7 milhões entre 2014 e 2017, revelada neste domingo pelo colunista Lauro Jardim, ampliou o temor, no Palácio do Planalto, de que o governo não consiga se blindar da repercussão negativa do caso. Auxiliares do presidente Jair Bolsonaro afirmaram ontem que foram pegos de surpresa e dizem que a extensão do problema ainda é desconhecida.

Oficialmente, todo o primeiro escalão mantém o discurso de que se trata de uma questão particular de Flávio. Entretanto, reservadamente, admitem que o caso abala os primeiros dias de governo. O presidente fazes ta semana sua primeira viagem internacional para participar do Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça, onde pretende fazer um discurso para se firmar como líder da América Latina. O receio, contudo, é que essa pauta fique em segundo plano diante das novas revelações envolvendo o ex-asses sordes eu filho. Diante da crise, não há previsão que Bolsonaro conceda entrevista coletiva durante a viagem. O presidente optou pela leitura de um comunicado à imprensa.

A movimentação financeira nas contas de Queiroz consta dos arquivos do Conselho de Controle de Atividades Financeiras(Coaf ). Ele trabalhou no gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) até 15 de outubro de 2018. Em dezembro passado, foi revelado que, entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017, ele movimentou R$ 1,2 milhão. O Coaf registrou que, nos dois anos anteriores, passaram por sua conta R$ 5,8 milhões, totalizando R$ 7 milhões em três anos. Até hoje Queiroz não apresentou explicação ao Ministério Público.

Entre os incomodados com o agravamento da crise está o núcleo militar mais próximo do presidente. A expectativa durante o dia de ontem era por uma explicação convincente por parte de Flávio.

O Planalto estabeleceu uma ordem de silêncio sobre o caso, que se estendeu ao Ministério da Justiça: Sergio Moro, a quem está subordinado o Coaf, submergiu e não comenta as suspeitas.

O general mais próximo a Bolsonaro, o ministro Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), não quis comentar o caso:

– Isso não é um problema meu. Não vou me meter nesse negócio.

Moro também foi procurado pela reportagem:

— Sem comentários — limitou-se a dizer.

ERRO DE ESTRATÉGIA
O advogado Paulo Klein, que defende Queiroz , disse ontem desconhecer o volume de recursos que passou pela conta de seu cliente entre 2014 e 2017. Desde julho do ano passado, o ex-assessor de Flávio é alvo de um procedimento investigatório criminal instaurado pelo Ministério Público do Rio devido à movimentação financeira incompatível com sua renda. Chamado a dar explicações em quatro ocasiões, ele não compareceu, alegando impedimento por causa de um câncer.

A defesa de Queiroz afirma que, embora tenha pedido ao MP acesso às informações registradas pelo Coaf, não obteve tais documentos. Segundo Klein, o fato de Queiroz estar se recuperando de uma cirurgia para a retirada de um tumor impossibilitou que cliente e advogado se reunissem e, portanto, que a defesa obtivesse os extratos bancários.

Segundo o advogado, Queiroz está em São Paulo, onde se recupera do procedimento cirúrgico realizado no hospital Albert Einstein. O ex-assessor teve alta em 8 de janeiro.

Procurada, a assessoria de Flávio informou que o senador eleito não ia se pronunciar. Anteontem ele se disse “indignado” e prometeu “rebater os pontos um a um”.

Integrantes do governo avaliam que houve um erro na estratégia da defesa de Flávio, que recorreu ao Supremo Tribunal Federal para paralisar a investigação do Ministério Público do Rio. Ele argumentou que o foro do caso seria o STF, já que ele assumirá o mandato no Senado em 1º de fevereiro. O pedido foi atendido pelo ministro Luiz Fux, em caráter liminar, mas o relator do caso, Marco Aurélio, já indicou que manterá a investigação na primeira instância.

Um relatório do Coaf identificou depósitos de R$ 96 mil, em dinheiro, no intervalo de um mês, na conta de Flávio. Os repasses foram feitos entre junho e julho de 2017 e aconteceram de forma fracionada: 48 parcelas de R$ 2 mil.

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