- Folha de S. Paulo
Bolsonaro aposta em milagre econômico para
encobrir tragédia
Vez ou outra, quando o calo aperta na CPI
da Covid, um bolsonarista aparece com números vistosos da economia. No
depoimento de Eduardo Pazuello, o líder do governo deixou o tema da comissão de
lado por um minuto e fez propaganda das previsões otimistas do mercado
financeiro para o crescimento do PIB e a retomada do emprego.
Jair Bolsonaro aposta num milagre econômico
para recuperar popularidade até a eleição. A ideia é aproveitar o crescimento
na casa de 4% previsto para este ano, pegar carona na provável recuperação das
taxas de emprego e turbinar programas sociais para encobrir a tragédia da
pandemia. Pode funcionar.
O líder do governo explicou a lógica. Fernando Bezerra (MDB) afirmou ao Valor Econômico que a oposição só trata a CPI como "bala de prata" porque "o movimento da economia é muito maior". Ele afirmou que o governo vai aproveitar uma folga no Orçamento para atender aos mais pobres e que a mudança no clima vai reeleger o presidente.
Políticos experimentados continuam na canoa de Bolsonaro porque
sabem que a melhora do ambiente econômico costuma dar alívio até para o
governante mais incompetente. Assim como crises pesam sobre a popularidade de
presidentes, a queda do desemprego e o dinheiro no bolso têm um efeito positivo
difuso sobre esses índices.
O plano de engordar o Bolsa Família daria a
Bolsonaro um impulso adicional e mais direto. Em 2020, o auxílio emergencial
fez com que a popularidade do presidente saltasse de 22% para 37% entre os
brasileiros mais pobres. Com a interrupção das parcelas, esse índice voltou a
23%.
O vento parece soprar a favor de Bolsonaro, mas o governo tem problemas no caminho. Além do desastre da pandemia, o país ainda pode terminar o ano com 14 milhões de desempregados e uma inflação que demora a ceder. Para completar, a falta de chuvas jogou no radar o risco de um racionamento de energia –que costuma ser fatal para governantes competentes e incompetentes.
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