O Globo
Jair Bolsonaro concedeu a si mesmo a Ordem
Nacional do Mérito Científico. O presidente se admitiu na classe de grã-cruz, a
mais elevada da comenda. Aproveitou para condecorar quatro ministros e um
almirante.
O capitão não precisava de esforço para
ganhar a medalha. O texto que a criou, em 1993, estabelece que seu grão-mestre
é o presidente da República. Desde então, seis políticos ocuparam o cargo. Só
Bolsonaro assinou um decreto para se autocongratular.
A honraria deve premiar personalidades que
“se distinguiram por suas relevantes contribuições prestadas à ciência, à
tecnologia e à inovação”. O capitão se distinguiu por sua contribuição para
enxovalhar o setor. Asfixiou o orçamento do ministério, sucateou instituições
de pesquisa e cortou milhares de bolsas de estudo.
Bolsonaro é um negacionista convicto. Nega as mudanças climáticas, a importância das vacinas e a necessidade de preservar as florestas. Sua cruzada contra a ciência agravou a tragédia da pandemia. Mesmo assim, ele vai inscrever seu nome entre personagens como Carlos Nobre e Mayana Zatz.
O presidente merecia o título de
grão-mestre em autopromoção. Em setembro, o governo abriu concorrência para
fazer propaganda no exterior. A agência vencedora deverá receber R$ 60 milhões
só em 2022.
O edital afirma que a campanha precisará
“fortalecer a imagem do Brasil” e “ressaltar o comprometimento do país com a
democracia, a preservação do meio ambiente, a promoção dos direitos humanos”.
Uma missão inglória para qualquer marqueteiro enquanto Bolsonaro estiver no
Planalto.
A oposição recorreu ao Tribunal de Contas
da União para suspender o certame. Pelo histórico recente, é improvável que
isso aconteça. Ontem o ministro Augusto Nardes defendeu um “pacto” para
autorizar o governo a “gastar um pouco mais”. Nem parecia o relator do processo
das pedaladas fiscais, usadas como pretexto para o impeachment de Dilma
Rousseff.
À vontade, Bolsonaro descreveu o TCU como
“um órgão integrado a nós, dada a forma como nos relacionamos”. “Aqui deixou de
ser um órgão que amedrontava muitas vezes no passado”, disse. A corte que
encurralava presidentes é mais uma instituição a capitular ao bolsonarismo. E o
capitão nem precisou dar medalhinhas aos ministros.
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