terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

Eliane Cantanhêde: Lula-Alckmin, o grande lance das eleições

O Estado de S. Paulo

Lula vai além das esquerdas, Alckmin recupera protagonismo, o PSDB murcha

Só falta anunciar a data do casamento do petista Lula com o ex-tucano Geraldo Alckmin, o principal lance da eleição de outubro. Não é nada, não é nada, trata-se de uma aliança entre o PT e um setor do PSDB, depois de os dois partidos se estranharem desde as primeiras eleições diretas pós-ditadura, em 1989, e polarizarem ferozmente a política nacional de 1994 a 2018.

O movimento confirma a força de Lula na eleição e o ocaso dos tucanos, que têm passado, a herança bendita da era FHC, mas podem não ter futuro. Convém a Lula, que amplia sua candidatura para além das esquerdas, e a Alckmin, que ganha uma janela de oportunidades. Mas pode selar o início do fim do PSDB.

Em prévias, candidatos, coordenadores e eleitores se comprometem com o resultado e apoiam o vencedor. Não no PSDB. Quem foi contra o vitorioso João Doria já no dia seguinte buscava alternativas e seu real adversário, o também governador Eduardo Leite, é até sondado para concorrer por outra sigla.

Se o nome do principal partido de centro tem 2% e alta rejeição e há um estouro da boiada no horizonte, isso fortalece a profecia autorrealizável de que “não tem jeito”. A terceira via fica ainda mais distante e a nova onda são as federações partidárias. Se amanhã o Supremo mantiver março como prazo, não dá tempo de nada. Se prorrogar, também não muda muita coisa.

Federação amarra os partidos por quatro anos e é para que pequenas siglas ganhem sobrevida, até serem incorporadas pelas maiores. O presidente Jair Bolsonaro não precisa, porque já tem o Centrão, ao menos formalmente. A que Lula tenta amarrar, com PT, PV, PCDOB e, mais difícil, PSB, faz sentido. Mas uma federação entre PSDB, MDB e União Brasil (DEM e PSL)?

Parece tentativa de “zerar o jogo”, dar uma saída honrosa se Doria não deslanchar, garantir bancada para o PSDB no Congresso em 2023 – e Fundo Partidário depois. O MDB tem a candidata Simone Tebet, mas cada Estado faz o que quer. E, no União Brasil, o artificial PSL engoliu a promessa DEM, que fez bonito nas eleições municipais e teria relevância em 2022. Não terá.

O PDT corre por fora, o Podemos tenta defender Sérgio Moro de múltiplos ataques. Outro grande ator das eleições é o PSD, mas o mago Gilberto Kassab tenta enrolar até se tornar indispensável para Lula (seu vice?). Mas esperteza demais engole o dono. Alckmin se sobrepôs a Kassab em São Paulo, o prefeito Alexandre Kalil já tem canal com Lula em Minas e o Rio é uma confusão. Kassab perde protagonismo na terceira via e no balaio lulista. O foco está nos interesses e articulações nos Estados.

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

FHC deixou uma ''herança bendita'',mas fez muita lambança também,igualzinho o PT,não esqueçamos que quanto mais tempo um partido fica no poder,mas comete ilegalidades.