quinta-feira, 2 de junho de 2022

Para Aníbal, fala de Lula atrapalha o diálogo

Aliado de Eduardo Leite, ex-presidente do PSDB quer disputar o Senado por SP, mas enfrenta resistência de Rodrigo Garcia

Por Cristiane Agostine / Valor Econômico

SÃO PAULO - Ex-presidente do PSDB, o ex-senador José Aníbal criticou ontem a declaração do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que seu partido “acabou”. Aníbal afirmou que a fala de Lula atrapalha qualquer tipo de negociação por apoio de tucanos e reforçou: “Eleição não se ganha de véspera”.

“Quem quer conversar não decreta o fim do seu interlocutor”, disse. “Nem procurou o PSDB para conversar e já diz que o partido acabou. Lula tem que se acautelar. Eleição não se ganha de véspera.”

Aníbal é um dos tucanos históricos citados por Lula para um possível diálogo em busca de apoio já no primeiro turno da eleição presidencial. Na semana passada, em reunião da coordenação-geral de sua pré-campanha, Lula teria citado nominalmente Aníbal como alguém que pretende procurar para conversar, segundo o relato de participantes.

Com a desistência do ex-governador tucano João Doria de concorrer à Presidência, o PT tenta manter um canal aberto com o PSDB. Dias atrás, o ex-senador tucano Aloysio Nunes declarou voto em Lula já no primeiro turno. A manifestação, em entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo”, ocorreu antes de Doria desistir.

Na terça, no entanto, Lula desgastou-se com tucanos ao atacar o PSDB. “Se achavam que iam banir o PT Uma vez teve um senador do PFL que disse que era preciso acabar com ‘essa desgraça do PT’, o Jorge Bornhausen. O PFL acabou. Agora quem acabou foi o PSDB. E o PT continua forte, continua crescendo e [é] um partido que conseguiu compor a maior frente de esquerda já feita nesse país”, disse.

Aníbal reconheceu o enfraquecimento do PSDB, que culminou com a desistência de Doria. No entanto, afirmou que Lula não deveria tentar “antecipar situações”, ao falar sobre o fim da sigla. “O PSDB passou, de fato, não só por uma desidratação, mas por um desempenho deletério na Câmara. Um partido que teve Paulo Renato Souza como ministro da Educação agora vota em ‘homeschooling’ na Câmara, vota com o governo Bolsonaro”, disse. “Mas não se decreta o fim de um partido.”

No Twitter, o PSDB também criticou Lula. “Não adianta querer reescrever a história. Foram anos de PT, Lula e Dilma semeando o ódio, perseguindo adversários, dividindo a sociedade e montando uma máquina de mentiras (hoje chamadas de fake news)”, postou a conta do partido. O deputado Aécio Neves (MG) classificou a declaração do petista como “arrogante e desrespeitosa”.

Aníbal anunciou ontem que pretende concorrer ao Senado na chapa do governador e pré-candidato à reeleição, Rodrigo Garcia (PSDB). Na terça-feira, ele reuniu-se com apoiadores na capital paulista e definiu que vai postular a vaga. Garcia, porém, tem negociado com o União Brasil a indicação do candidato a senador, e com o MDB, a vaga de vice em sua chapa.

Aníbal disse que sua pretensão tem o respaldo dos tucanos que apoiaram o ex-governador Eduardo Leite (RS) na prévia contra Doria. Ele afirmou que terá hoje reunião com o presidente estadual do PSDB, Marco Vinholi, para formalizar sua intenção de concorrer.

Na negociação com o União Brasil, Garcia cita como possível nome o ex-juiz Sergio Moro na vaga para senador. Moro, porém, tem resistência de seu próprio partido. O governador também mencionou o presidente do diretório municipal do PSDB, Fernando Alfredo.

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

A frase do lula,isolada,soa arrogante mesmo,mas dentro do contexto acaba fazendo sentido - E que o PSDB se fortaleça para voltarmos ao debate e embate civilizado entre coxinha e mortadela,rs.