terça-feira, 1 de novembro de 2022

Andrea Jubé - Lula quer começar transição e viajar

Valor Econômico

Lula mira técnico com traquejo político na transição

Aos 77 anos, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) até hoje impressiona os aliados, mesmo aqueles com quem convive há décadas, pela vitalidade. Após a apertada vitória nas urnas na noite de domingo, Lula leu um pronunciamento escrito de nove páginas, recebeu cumprimentos em uma sala de reuniões de um hotel, fez três discursos para os populares na Avenida Paulista do alto de um trio elétrico, dançou com Janja duas músicas do show de Daniela Mercury, e deixou a festa por volta de meia-noite.

Muito antes dele, o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB), 69 anos, e a ex-presidente Dilma Rousseff, 74 anos, haviam saído à francesa da comemoração na Paulista. Integrantes da coordenação da campanha e da Executiva Nacional do PT, que haviam planejado tirar a manhã de segunda-feira para um breve repouso, surpreenderam-se ao serem convocados para uma reunião com Lula às 10 horas.

Relatos de alguns participantes dessa reunião à coluna são de que o presidente eleito estava animado e bem disposto, ansioso para começar a transição, embora haja apreensão quanto à cooperação do governo Bolsonaro.

A explicação para essa energia está nesse trecho do pronunciamento: “Eu me considero um cidadão que teve um processo de ressurreição na política brasileira; tentaram me enterrar vivo, e eu estou aqui.”

No exato momento em que a aritmética confirmou a vitória, porque seria impossível ao adversário ultrapassá-lo nas urnas, um filme passou diante dos olhos do petista: ele reviu sua perplexidade diante da ordem de prisão do juiz Sergio Moro (agora senador eleito), a expectativa de não passar mais de uma semana preso, os 580 dias confinados em Curitiba, o impedimento de disputar o pleito presidencial de 2018, a libertação em novembro de 2019, a sétima campanha presidencial, a vitória. Em síntese, Lula sente que, aos 77 anos, renasceu.

Nem mesmo as notícias de bloqueios de rodovias em diversos pontos do país azedaram o humor de Lula. Uma liderança petista argumentou que esse problema não é do presidente eleito, e sim do atual mandatário, que tem o dever e a responsabilidade de mostrar à população que ainda governa o país, e não pode chancelar o caos.

Bolsonaro perderá protagonismo para Lula, como tradicionalmente ocorre com o presidente em fim de mandato, mas ele detém a “caneta Bic” nas mãos até 31 de dezembro, e tem o dever de zelar pela ordem pública e paz social.

Nos bastidores, petistas e aliados de outras legendas acreditam que a turbulência promovida pelos caminhoneiros, estimulada pela inércia presidencial, arrefecerá em breve porque Bolsonaro está isolado.

A vitória de Lula já foi publicamente reconhecida pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que é notório escudeiro de Bolsonaro.

Ao mesmo tempo, oficiais militares da ativa não demonstraram disposição de endossar ações que estimulem a desordem social. Por enquanto, mantêm-se ao lado do presidente alas da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e da Polícia Federal (PF), sob a coordenação do Ministério da Justiça, que vêm contribuindo para o agravamento do caos ao cruzarem os braços.

Na reunião desta segunda-feira, Lula quis repassar as regras da transição de governo. O processo é previsto em lei e em um decreto presidencial de 2010. Pela norma, o presidente eleito pode nomear, em 48 horas após a oficialização dos resultados, um coordenador, e mais 50 auxiliares para se inteirar dos números da atual gestão, e planejar a sucessão.

O petista, entretanto, afirmou que não tem pressa em anunciar o seu indicado. “Assim que eu nomear [o coordenador], vão dizer que ele será ministro”, reclamou. Lula costuma irritar-se com especulações em torno de aliados que pode vir a indicar para o primeiro escalão do futuro governo.

Ele tem razão: o coordenador da transição tende a se tornar ministro. Foi assim em 2002. Após a vitória de Lula, o então prefeito de Ribeirão Preto (SP), Antonio Palocci, um dos mais atuantes na campanha, reassumiu o cargo. Mas dois dias depois, renunciou ao mandato porque havia sido nomeado para coordenar a transição de governo. Ele ganhou cada vez mais protagonismo, foi indicado para o Ministério da Fazenda, e se tornou o auxiliar mais influente do primeiro mandato lulista.

Para a função de coordenador, Lula quer um quadro técnico, mas com habilidade política. O vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) está cotado, mas há quem sustente que o cargo, pela relevância, deveria ser do PT. A prevalecer o critério partidário, dois outros aliados lembrados para ocupá-lo são o ex-ministro Aloizio Mercadante, que foi coordenador do programa de governo, e é reconhecido pela capacidade de trabalho, e o candidato derrotado ao governo de São Paulo Fernando Haddad.

Uma preocupação paralela é com a comunicação e a atuação nas redes sociais. O protagonismo do deputado André Janones (Avante-MG), e de “influencers” que contribuíram com a campanha, como Felipe Neto, vai continuar durante a transição.

Lula pretende começar o roteiro de viagens para “reposicionar o Brasil” no exterior assim que a transição deslanchar. Ele irá à Argentina, após o convite do presidente Alberto Fernández.

Conforme informou o Valor, o presidente eleito recebeu o convite do governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), para integrar a comitiva do consórcio de governadores da Amazônia Legal que participará da cúpula internacional do clima (COP27) no Egito.

Na reunião desta segunda-feira, Lula confidenciou que deseja comparecer ao evento. Uma agenda em vista seria um encontro com o secretário-geral da ONU, António Guterres, e articular a retomada dos repasses dos bilhões de dólares da Noruega para o fundo de preservação da Amazônia, interrompidos durante o governo Bolsonaro.

Um comentário:

Anônimo disse...

Lula já trabalha enquanto tenta descansar! Bolsonaro, que pouco trabalhou durante todo o seu mandato, preferindo MOTOCIATAS quase diárias e passeios de jet-ski, quando deveria estar trabalhando e governando, GARANTINDO A LIBERDADE DE IR E VIR dos cidadãos do país ameaçados por caminhoneiros violentos e antidemocratas, passou MAIS UM DIA com pouco trabalho e SEM NADA fazer pra liberar as estradas FEDERAIS bloqueadas pelos manifestantes bolsonaristas! Bolsonaro é MUITO INCOMPETENTE, além de totalmente mentiroso!