Valor Econômico
Lula mira técnico com traquejo político na
transição
Aos 77 anos, o presidente eleito Luiz
Inácio Lula da Silva (PT) até hoje impressiona os aliados, mesmo aqueles com
quem convive há décadas, pela vitalidade. Após a apertada vitória nas urnas na
noite de domingo, Lula leu um pronunciamento escrito de nove páginas, recebeu
cumprimentos em uma sala de reuniões de um hotel, fez três discursos para os
populares na Avenida Paulista do alto de um trio elétrico, dançou com Janja
duas músicas do show de Daniela Mercury, e deixou a festa por volta de
meia-noite.
Muito antes dele, o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB), 69 anos, e a ex-presidente Dilma Rousseff, 74 anos, haviam saído à francesa da comemoração na Paulista. Integrantes da coordenação da campanha e da Executiva Nacional do PT, que haviam planejado tirar a manhã de segunda-feira para um breve repouso, surpreenderam-se ao serem convocados para uma reunião com Lula às 10 horas.
Relatos de alguns participantes dessa
reunião à coluna são de que o presidente eleito estava animado e bem disposto,
ansioso para começar a transição, embora haja apreensão quanto à cooperação do
governo Bolsonaro.
A explicação para essa energia está nesse
trecho do pronunciamento: “Eu me considero um cidadão que teve um processo de
ressurreição na política brasileira; tentaram me enterrar vivo, e eu estou
aqui.”
No exato momento em que a aritmética
confirmou a vitória, porque seria impossível ao adversário ultrapassá-lo nas
urnas, um filme passou diante dos olhos do petista: ele reviu sua perplexidade
diante da ordem de prisão do juiz Sergio Moro (agora senador eleito), a
expectativa de não passar mais de uma semana preso, os 580 dias confinados em
Curitiba, o impedimento de disputar o pleito presidencial de 2018, a libertação
em novembro de 2019, a sétima campanha presidencial, a vitória. Em síntese,
Lula sente que, aos 77 anos, renasceu.
Nem mesmo as notícias de bloqueios de
rodovias em diversos pontos do país azedaram o humor de Lula. Uma liderança
petista argumentou que esse problema não é do presidente eleito, e sim do atual
mandatário, que tem o dever e a responsabilidade de mostrar à população que
ainda governa o país, e não pode chancelar o caos.
Bolsonaro perderá protagonismo para Lula,
como tradicionalmente ocorre com o presidente em fim de mandato, mas ele detém
a “caneta Bic” nas mãos até 31 de dezembro, e tem o dever de zelar pela ordem
pública e paz social.
Nos bastidores, petistas e aliados de
outras legendas acreditam que a turbulência promovida pelos caminhoneiros,
estimulada pela inércia presidencial, arrefecerá em breve porque Bolsonaro está
isolado.
A vitória de Lula já foi publicamente
reconhecida pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e pelo
presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que é notório escudeiro de
Bolsonaro.
Ao mesmo tempo, oficiais militares da ativa
não demonstraram disposição de endossar ações que estimulem a desordem social.
Por enquanto, mantêm-se ao lado do presidente alas da Polícia Rodoviária
Federal (PRF) e da Polícia Federal (PF), sob a coordenação do Ministério da
Justiça, que vêm contribuindo para o agravamento do caos ao cruzarem os braços.
Na reunião desta segunda-feira, Lula quis
repassar as regras da transição de governo. O processo é previsto em lei e em
um decreto presidencial de 2010. Pela norma, o presidente eleito pode nomear,
em 48 horas após a oficialização dos resultados, um coordenador, e mais 50
auxiliares para se inteirar dos números da atual gestão, e planejar a sucessão.
O petista, entretanto, afirmou que não tem
pressa em anunciar o seu indicado. “Assim que eu nomear [o coordenador], vão
dizer que ele será ministro”, reclamou. Lula costuma irritar-se com
especulações em torno de aliados que pode vir a indicar para o primeiro escalão
do futuro governo.
Ele tem razão: o coordenador da transição
tende a se tornar ministro. Foi assim em 2002. Após a vitória de Lula, o então
prefeito de Ribeirão Preto (SP), Antonio Palocci, um dos mais atuantes na
campanha, reassumiu o cargo. Mas dois dias depois, renunciou ao mandato porque
havia sido nomeado para coordenar a transição de governo. Ele ganhou cada vez
mais protagonismo, foi indicado para o Ministério da Fazenda, e se tornou o
auxiliar mais influente do primeiro mandato lulista.
Para a função de coordenador, Lula quer um
quadro técnico, mas com habilidade política. O vice-presidente Geraldo Alckmin
(PSB) está cotado, mas há quem sustente que o cargo, pela relevância, deveria
ser do PT. A prevalecer o critério partidário, dois outros aliados lembrados
para ocupá-lo são o ex-ministro Aloizio Mercadante, que foi coordenador do
programa de governo, e é reconhecido pela capacidade de trabalho, e o candidato
derrotado ao governo de São Paulo Fernando Haddad.
Uma preocupação paralela é com a
comunicação e a atuação nas redes sociais. O protagonismo do deputado André
Janones (Avante-MG), e de “influencers” que contribuíram com a campanha, como
Felipe Neto, vai continuar durante a transição.
Lula pretende começar o roteiro de viagens
para “reposicionar o Brasil” no exterior assim que a transição deslanchar. Ele
irá à Argentina, após o convite do presidente Alberto Fernández.
Conforme informou o Valor, o presidente eleito
recebeu o convite do governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), para integrar a
comitiva do consórcio de governadores da Amazônia Legal que participará da
cúpula internacional do clima (COP27) no Egito.
Na reunião desta segunda-feira, Lula confidenciou que deseja comparecer ao evento. Uma agenda em vista seria um encontro com o secretário-geral da ONU, António Guterres, e articular a retomada dos repasses dos bilhões de dólares da Noruega para o fundo de preservação da Amazônia, interrompidos durante o governo Bolsonaro.
Um comentário:
Lula já trabalha enquanto tenta descansar! Bolsonaro, que pouco trabalhou durante todo o seu mandato, preferindo MOTOCIATAS quase diárias e passeios de jet-ski, quando deveria estar trabalhando e governando, GARANTINDO A LIBERDADE DE IR E VIR dos cidadãos do país ameaçados por caminhoneiros violentos e antidemocratas, passou MAIS UM DIA com pouco trabalho e SEM NADA fazer pra liberar as estradas FEDERAIS bloqueadas pelos manifestantes bolsonaristas! Bolsonaro é MUITO INCOMPETENTE, além de totalmente mentiroso!
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