segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

Fernando Carvalho - A doce Nélida Piñon

O Brasil, sábado, amanheceu mais pobre culturalmente.  Faleceu em Portugal aos 85 anos a escritora Nélida Piñon. Em 2015 seu oncologista deu a ela apenas seis meses de vida. Então ela passou a planejar a própria morte e viveu durante mais sete anos. Primeira mulher a presidir a Academia Brasileira de Letras, autora de vinte livros que incluem romances, crônicas e ensaios, deixou uma obra inédita. Nélida teve seus livros traduzidos para dezenas de países. 

Ganhou vários prêmios literários:  Walmap, Jabuti, Pen Clube. Em 2005 ganhou o Prêmio Príncipe de Astúrias pelo conjunto da obra. Recebeu títulos de Doutor Honoris Causa de universidades de vários países como Santiago de Compostela, Espanha; Poitiers, França; Montreal, Canadá e Pontifícia Universidade Católica de Porto Alegre. Politizada, Nélida Piñon participou da elaboração de um Manifesto de Intelectuais contra a censura durante a ditadura militar. O ditador de plantão era Ernesto Geisel e biografias não autorizadas eram proibidas. O esbirro da ditadura que recebeu o manifesto de dirigiu a ela dizendo que ela era ousada e corajosa, porém diplomática.

Durante a pandemia sendo entrevistada pelo jornal El País Nélida pontificou:

"Hoje vendemos nossa liberdade (...) por objetos perecíveis sem nenhum valor. Não tenho medo, enfim, do dano que possa ocorrer, porque o pior já está ocorrendo".

Agora puxando brasa para a minha sardinha. Nélida Piñon pelo seu romance A Doce Canção de Caetana, ganhou o Prêmio de Melhor Romance de 1987 da Academia Brasileira de Letras. Pois bem aproveitei uma passagem deste romance e usei como a primeira epígrafe do meu Livro Negro do Açúcar: 

-- Açúcar?

Polidoro recusou. Balinho, indiferente, encheiu-lhe a xícara de açúcar, fazendo mossa da recomendação.

-- Vai fazer bem. É indicado para emoções fortes.

*Fernando Carvalho é historiador, formado pela Universidade Federal Fluminense (UFF), autor de “Livro Negro do Açúcar

5 comentários:

Fernando Carvalho disse...

Que ninguém pense que açúcar é remédio para "emoções fortes". O Dr. Sérgio Puppin no prefácio do livro mencionado diz que "Tornar-se escravo do açúcar é muito fácil, pois sua absorção é extremamente rápida, logo alcançando o cérebro, onde juntamente com a insulina libera triptofano, que se converte em serotonina, a qual tem ação tranquilizante".

Anônimo disse...

Infelizmente, Nélida não viveu o suficiente pra ver o GENOCIDA ser tirado do poder e a Democracia voltar a se consolidar em nosso país!

Anônimo disse...

Fernando Carvalho postou algo realmente útil. Sua contribuição valiosa deveria, por favor, ser repetida. Nada como uma informação que se aproveite, em meio a tanto besteirol.

ADEMAR AMANCIO disse...

Ao menos ela viu a derrota do mesmo.

Fernando Carvalho disse...

Fico lisonjeado com a parte que me toca do elogio do anônimo. Aproveito para recomendar o trabalho do Gilvan como um todo, faltando apenas incluir o humor. Vou falar com ele sobre isso.