terça-feira, 24 de janeiro de 2023

Carlos Andreazza - Esquinas obscuras do Brasil

O Globo

Não havia condições para golpe. Mas é preciso atentar para a percepção — o imaginário — dos milhares que se moveram contra a República. Viviam — vivem — num cosmo em que aquele ataque, a captura dos palácios, seria gancho para a tomada do Estado pelos militares.

Eram milhares ali; e milhões os que — sob graus variados de exposição ao discurso delirante — tinham contato diário com a pregação de que a derrubada do sistema, submetidos os Poderes, estaria próxima.

Não havia condições materiais para golpe; mas estavam emitidos os sinais à confiança em que a intervenção militar viria, o próprio estímulo a que os destruidores progredissem. Não ficariam sozinhos. O Exército logo chegaria. Essa era a fé.

Braga Netto — logo, Bolsonaro — não cifrara a que não perdessem as esperanças? A existência dos acampamentos, nas barbas dos quartéis-generais, era indicativa de que o apoio militar não faltaria na hora decisiva. Por meses, o comando do Exército abrigou e protegeu, em área militar, um universo paralelo golpista que incubaria até célula terrorista.

E ao Exército — para robustecer a fortaleza encorajadora na mente golpista — somava-se a Polícia Militar do Distrito Federal, a de Ibaneis Rocha e Anderson Torres (Bolsonaro, logo). Eram muitas e múltiplas as mensagens de que havia retaguarda. Especificamente no dia 8, a forma como, conduzidos pela PM, os invasores puderam vencer as linhas de defesa dos palácios mostrava que linha de defesa não existia.

O acampamento em Brasília continuou intocável, entrincheirado pelo Exército, mesmo depois de terroristas — com trânsito ali — haverem tentado explodir caminhão carregado de querosene no aeroporto.

O raciocínio era simples e atraente: se os militares nos franquearam a segurança da porta dos quartéis, e se nos protegiam e facilitavam o avanço à festa de Selma, por que não estariam conosco quando enfim conquistássemos os prédios? Tomaríamos os espaços, o governo reagiria, e eles garantiriam a desobediência e a implantação do novo regime. Essa era a cabeça.

Tudo isso tinha lastro nas comunicações — alucinadas para nós — que circulavam no zap-profundo. Um sistema de crenças que impulsionou aquelas gentes a invadirem Supremo, Congresso e Planalto; este último assaltado, portas abertas, sem a mais mínima defesa da guarda presidencial.

Um sistema de crenças mirabolante impulsionado por — atenção — gestões bem concretas.

Ou não teremos visto o Exército, canhões em riste, formar barreira contra o Brasil de modo a garantir que os golpistas pudessem voltar ao acampamento livres do alcance imediato da polícia então já sob intervenção?

Os golpistas delirantes evoluíram sob estímulos reais. Daí por que os riscos continuem. Eis o contexto que forja o dilema sobre criticar a atividade de Alexandre de Moraes.

Se os riscos permanecem, como lhe botar reparo? Os acampamentos acabaram. Mas continuam. Vão acampados milhões de mentes. E será ingenuidade supor que a dissolução física significaria desmobilização e falta de apoio em círculos militares.

Penso, porém, que precisamos — ainda que sob apedrejamento — tratar da operação de Moraes.

Tenho dúvidas sobre se a administração do ministro evitou cenário pior — como parece convencionado — ou deu corpo ao inimigo fácil de que o bolsonarismo precisa. Talvez as duas coisas. Fato é que, mesmo com os inquéritos, o 8 de janeiro ocorreu — com financiadores e facilitadores desinibidos.

A situação é inquietante. Convida à paralisia; ao não enfrentamento público de preocupação honesta. Afinal, houve as invasões. Como criticar as decisões de Moraes? Aquele domingo as legitimaria.

Compreendo, entretanto, que o modo como o juiz combate o problema, por grave e urgente que seja, contrata um problema — de tamanho imensurável — para o futuro. Aprendi com a Lava-Jato. E lembro que, no inquérito dito das Fake News, de objeto em constante transformação, Moraes mandou — ainda em 2019 — censurar uma revista que reportara passagem desgostosa para Dias Toffoli. Não foram poucas as vezes em que se excedeu desde então.

Na hipótese preponderante em que se admite — o STF admitiu formalmente — que circunstância excepcional autoriza medidas de exceção, seria necessário ao menos a prudência de avaliar-projetar como se pousará a geringonça. Será possível aterrissar? Voltará o gênio à lâmpada, uma vez investido — pela covardia do Estado — de ser as instituições contra o capeta? Os riscos continuam.

Muitos dos atos de Moraes são inconsistentes com a Constituição que pretendem proteger. E o impasse, que planta a angústia, é que o mesmo que defende a democracia alimenta o espírito do tempo autoritário.

A desejada volta à normalidade exige que olhemos para isso. Para os precedentes que vão plantados; a que togados outros — por causas que democratas considerem menos virtuosas — ajam. Não nos esqueçamos de que, tal e qual o guarda, há o juiz nas esquinas obscuras do Brasil.

 

20 comentários:

Anônimo disse...

"Fato é que, mesmo com os inquéritos, o 8 de janeiro ocorreu — com financiadores e facilitadores desinibidos."
Mas é importante perceber que tais financiadores são todos peixinhos miúdos: os grandes empresários golpistas e políticos de maior prestígio ficaram de fora das articulações mostradas até agora pela mídia - certamente por receio das investigações e ações que viriam, como estão vindo, do STF, da PF, do MPF, etc.
Mas o colunista tem boa dose de razão nas suas reflexões. E o tal inquérito das "Fake news" é muito temido e discutido, mas gerou muito poucas ações até agora, além das decisões monocráticas de Moraes.

Anônimo disse...

"Ou não teremos visto o Exército, canhões em riste, formar barreira contra o Brasil de modo a garantir que os golpistas pudessem voltar ao acampamento livres do alcance imediato da polícia então já sob intervenção?"

Eh, EB, q desmoralização! Q vergonha! Todos vimos o EB formar barreiras CONTRA O BRASIL.

Anônimo disse...

Pena q o articulista não especifique onde estão, juridicamente, as inconsistências do Ministro Moraes. Se o fizesse, ficaria claro q se trata apenas de opinião. Só citou o Toffoli q não tem relação com o golpe e nem com o EB.

Anônimo disse...

Para acabar com as Forças, só se fizer como na Venezuela, corrompendo. Qualquer idiotazinho sabe como terminou. O nisso povo não é besta e acabar no socialismo da Rússia, onde o povo passa fome (acabou o M.D) ou a China que usa o chicote ou. , tank para acabar com a insatisfação popular,cujo povo chama os brasileiros de incompetentes ou preguiçosos por não funcionar na indústria, mas que a escravidão começa aos 6 anos de idade. Não podem reclamar se o povo trabalha horas extras para o um governo que determina até quantos filhos a mulher, na acepção da palavra, pode parir, já que são considerados uma raça invisível. Minha gente, como dizia o Collor, brasileiro não é para qualquer um não, pode não ser muitas coisas mais burros não são. Essa propaganda toda é para desacreditar nosso Exército é para enfraquece-lio perante a população já que ele ocupou o primeiro lugar na confiança nossa. A grande “burrada” das Army foi associar-se com o “brega” do Bozo, incrivelmente estupido ao ponto de não enxergar um palmo diante do nariz, esse conseguiu chegar a presidente pelo (o)caso do PT - não soube aproveitar, perdeu e com ele as Forças.

Anônimo disse...

" A grande “burrada” das Army foi associar-se com o “brega” do Bozo, incrivelmente estupido..."

Grande mancada, de fato. E precisa de mais?
Porém, a grande BURRADA das fa é ficar contra o Brasil.
Me diga uma única coisa boa feita pelos milicos.
Di-ga u-ma!
Depois comente sobre a impressionante omissão/ crime das fa sobre os yanomami.
Quer q eu continue?
Comente sobre o impressionante apoio dos milicos pros terroristas porem uma carreta pra explodir no 3o aeroporto do país.
Quer q eu continue?
Não preciso? Chega? Ok.

Preste atenção. A grande burrada é q nossas fa são inúteis. Se vc entender isso, tudo fica claro.
Delas não precisamos. Cansadas da inutilidade (não temos ameaças externas), cansadas de pintar troncos, elas pensam em golpe.
E, aí, só fazem M.

Como cê disse, armada do lado do bozo é BURRICE. VC DISSE. NAO EU.
Mas não é a única. Tem MUITAS BURRICES.

insisto: cite uma coisa boa feita pelas ARMY.

Anônimo disse...

"Para acabar com as Forças, só se fizer como na Venezuela, corrompendo."

Foi o q o genocida fez jo Brasil. E foi baratinho, corrompidas com muuuuuuuuito desconto.
Kkkkkkkkkkkkk

Pazzuello custou quanto? Barato.
E o mau q fez às FA? Caaaaaaaaaro!

Kkkkkkkkkkkkkkk Bem feito! Como um pazzuello pode chegar no topo da carreira militar? Rá, fácil, o nível é o do pazzuello.
Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

Mas o dim-dim atrai.

Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

Anônimo disse...

"Para acabar com as Forças, só se fizer como na Venezuela, corrompendo."

Foi o q o genocida fez no Brasil. E foi baratinho, com muuuuuuuuito desconto.
Kkkkkkkkkkkkk

Pazzuello custou quanto? Barato.
E o mau q fez às FA? Caaaaaaaaaro!

Kkkkkkkkkkkkkkk Bem feito! Como um pazzuello pode chegar no topo da carreira militar? Rá, fácil, o nível é o do pazzuello.
Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

Mas o dim-dim atrai.

Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

Anônimo disse...

Dona xepa, posso chama -la assim ? Tu és muito burrra. Curso as vezes dá jeito nisso, mas as vezes não, como bolo, precisa bater e outro ingrediente para crescer. O mundo não é mais igual ao tempo que tu formou.

Anônimo disse...

Enquanto isso perdes tempo com o Pazuello, não sabes que ele já era? Vá conhecer História , estar bastante, quem sabe?

Anônimo disse...

Quanto anos ainda mais falarão sobre os índios? Desde que fundaram o Brasil o índio padece no “chicote” do homem branco. UK foi o único país que se saiu mais ou menos nessa história. E isso é a nossa, a história de toda humanidade. Que cada vez piora em vez de melhorar
Quis dar uma chacoalhada nesse Blog para ver se mudavam de assunto, já não aguentava mais o mesmo de todos dias falar do que passou. Depois do Bozo alguém precisa cuidar da juventude nossa. Há um desperdício imenso nessa falação enjoada, é preciso indicar um caminho seguro para não fenecer aquilo que da vida tanto valor, conhecimento, inclusão do que acontece no mundo. Como já disse a História pode ser um caminho perigiso para os esquerdistas, mas vale para começo.

Anônimo disse...

Puxa, pensei q cê fosse citar uma coisa boa.feita pelas fa.
Impossível, né?
Sim, eu, sei.
Cho cho cho
Não chore.

Anônimo disse...

Cê deve ser milico. Pazzuelo não é perda de tempo. O milico incompententissimo NUNCA PODE SER ESQUECIDO.
Ele representa o melhor do q o EB pode apresentar, ié, a incompetência, a ignorância orgulhosa, o bajulador, alguém pior do q um cordinha, algo q devemos evitar.
Ele será estudado, teses e dissertações e TCC serão apresentados nas universidades.
Vc quer esquecê-lo; a história vai imortalizá-lo como um milico incompetente DO EB. Um genocida anticiência, antivacina.
SIMPLES ASSIM.
Vc faz estória.
EU, HISTÓRIA.
Mas não se irrite.

Anônimo disse...

Coitadinho. Q pena!

Anônimo disse...

Sinto muito q eu não.consiga entender seus objetivos. Sequer entendo seu texto. Culpa minha.

Anônimo disse...

Man vive em um redoma e não percebe.

Anônimo disse...

Só sua a indireta não poderia ser mais direta, minha Sra. Boa noite e sonhe com a Venezuela, Rússia e China, tenha bons sonhos com o povo.

Anônimo disse...

Um dia entenderá se voltar aos bancos das escolas.

Anônimo disse...

Infelizmente, a memória é oportunista apagando tudo que o que o PT fez nos anos que governou o país, Minha memória é ótima e lembra dos males feitos de todos os governos que tivemos. Democraticamente, ela lembra das boas realizações, também.

Anônimo disse...

Hoje mesmo, o cordinha do genocida foi impedido de assumir o cargo.
Urrrrrrrrrrrrrúú!

Eu avisei.
Grande LULA!

ADEMAR AMANCIO disse...

Quantos comentários!