quarta-feira, 1 de março de 2023

Bruno Boghossian – Uma relação indesejada

Folha de S. Paulo

Sem condições de vencer antipetismo na tropa, governo depositou aposta em grupos considerados legalistas

Dias antes da demissão do último comandante do Exército, um ministro de Lula examinava as inclinações políticas da Força. As tropas, segundo ele, tinham um grande contingente de bolsonaristas, uma ala diminuta de lulistas e um bloco de antipetistas que poderiam ser considerados legalistas. "É com esse terceiro grupo que vamos ter que trabalhar", disse o auxiliar do presidente.

Lula sabia que manobrava dentro de uma margem estreita quando decidiu trocar a chefia do Exército. O presidente demitiu um general que se recusava a mitigar a contaminação política das tropas e nomeou um substituto que, na visão do governo, atendia a requisitos mínimos para evitar uma crise com as Forças.

O novo chefe do Exército parece ter sido escolhido dentro daquele terceiro grupo. Numa reunião com subordinados às vésperas da mudança de comando, o general Tomás Paiva criticou ações golpistas e questionou a credibilidade de teorias sobre fraude nas urnas, mas também admitiu estar entre os militares que lamentavam a vitória de Lula.

"Não dá para falar com certeza que houve qualquer tipo de irregularidade. Infelizmente, foi o resultado que, para a maioria de nós, foi indesejado, mas aconteceu", disse Paiva, segundo uma gravação divulgada pelo podcast Roteirices.

O governo não tinha ilusões de um alinhamento completo quando escolheu Tomás Paiva. Depois da mudança, Lula disse publicamente que o general "pensa exatamente" como ele sobre os militares, mas restringiu sua avaliação a um ponto: "As Forças Armadas não servem a um político".

A aposta de Lula foi depositada no resgate de uma doutrina de respeito à lei e à autoridade do presidente, mesmo que o antipetismo permanecesse em setores influentes.

Na conversa gravada, Paiva reconheceu esse cenário. "Nós estamos na bolha fardada, militarista, de direita e conservadora", declarou. Ele afirmou ainda que os militares devem agir para barrar o que chamou de "enquadramento" dos militares pelo governo do PT.

 

Um comentário:

Anônimo disse...

Os militares serão enquadrados, sim, pelo governo de Lula, que NÃO É UM GOVERNO DO PT! Terão que seguir rigorosamente a Constituição e as normas militares, que preveem disciplina e afastamento da política partidária. A bagunça do tempo do DESgoverno Bolsonaro foi uma exceção ILEGAL que terá que ser totalmente SUPERADA e NUNCA MAIS OCORRER nas Forças Armadas! As Forças Armadas devem obediência às forças DESarmadas democráticas! Chega de militar golpista! Este tipo será processado e condenado sempre que aparecer!