Folha de S. Paulo
É aviltante o looping de carências dos
pobres no Brasil ante a qualidade de vida dos ricos
Uma das características mais cruéis de uma
sociedade tão desigual como a brasileira é o menosprezo da elite —que usufrui
de todos os direitos, além de muitos privilégios— em relação aos problemas
cotidianos da massa de desvalidos que compõem o povo.
Não é de hoje que as classes C, D e E vêm se encalacrando para sobreviver. Diversas pesquisas apontam o endividamento crescente entre os mais pobres, que contraem dívidas até para comprar comida a crédito! Sem falar nos milhares que estão à margem, literalmente passando fome.
Com inflação e juros em alta, a
"ralé" vive uma espécie de looping de carências que beira o ridículo
de tão aviltante em comparação com a qualidade de vida dos mais ricos.
Hoje, em São Paulo, para comprar uma cesta
básica são necessários R$ 794,68, segundo o Dieese. Isso é mais de 60% do valor
do novo salário mínimo. Parece até piada, e de muito mau gosto, considerando
que o mínimo deveria suprir todas as necessidades básicas de uma família. Mas é
a realidade do pobre no Brasil, que inclui o drible das contas do mês. A saída
óbvia é escolher o que deixar de pagar.
Na classe C, que representa o universo de
brasileiros que recebem entre R$ 5,2 mil e R$ 13 mil mensais, 80% das pessoas
estão endividadas! Não é preciso muito esforço para imaginar a situação das
famílias das classes D e E, onde os rendimentos não ultrapassam os R$ 5,2 mil.
Também não é demais lembrar que a maioria
desses cidadãos é negra, segundo pesquisa
recente do Instituto Locomotiva. Por que será?
Nesse cenário bizarro, está cada vez mais
difícil encontrar alguém que frequente o comércio e ainda não tenha sido
abordado por um desamparado pedindo alguma coisa —não só na entrada, mas
também no interior dos estabelecimentos.
Não sei o que é mais triste e
constrangedor: a vulnerabilidade dos pedintes; a grosseria dos fiscais das
lojas com quem está a esmolar; ou a indiferença dos que são incapazes de
acolher um pedido genuíno.
Um comentário:
A classe E que ganha 5 mil deixou de ser classe E,na minha cidade quem ganha isso é rico.
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