O Estado de S. Paulo
Pela ferramenta é possível saber quanto um congressista gasta em refeições, viagens ou carros
Todos deveríamos acompanhar as despesas de
deputados e senadores como monitoramos nosso cartão de crédito. Afinal, o
dinheiro que eles gastam é o nosso dinheiro. Uma nova ferramenta digital
permite que você faça exatamente isso. Você escolhe um ou mais parlamentares e,
a cada despesa do gabinete de seu escolhido, recebe um “push” no celular – como
se fosse uma despesa do cartão de crédito de um de seus filhos.
A ferramenta, batizada de “Cartão da Transparência”, acaba de ganhar seis “Leões” no Festival de Cannes, considerado o Oscar da publicidade mundial – dois de ouro, três de prata e um de bronze. Ela foi desenvolvida pela agência de comunicação AKQA e está hospedada no site Congresso em Foco.
“Essas informações estavam disponíveis no
Portal da Transparência, mas era muito difícil acessá-las”, diz Carolina
Pinheiro, diretora de criação da AKQA. “Faltava uma tecnologia que as lesse e
organizasse – e foi isso que fizemos”, afirma Pinheiro, entrevistada no
minipodcast da semana. A expectativa após o festival é de que a iniciativa
brasileira inspire outras pelo mundo.
Pelo Cartão da Transparência é possível
saber quanto um congressista gasta, por exemplo, em refeições, viagens ou
aluguel de carros, despesas que devem ser obrigatoriamente declaradas. Não é
possível saber se tais rubricas escondem outras despesas – mas é possível
desconfiar se os números são incompatíveis com o preço das coisas na vida real.
Vale novamente a comparação com o cartão de crédito: se aparece um gasto de R$
4 mil num restaurante, e nos últimos tempos você só comeu no quilo da esquina,
é o caso de desconfiar.
Seria possível usar o Cartão da
Transparência para acompanhar outras despesas – como, por exemplo, para onde
vão os recursos do Orçamento? “A ferramenta está sendo constantemente melhorada
e atualizada para abranger mais políticos e mais informação para o cidadão”,
diz Pinheiro. “Nós conseguimos trazer para o site, no entanto, apenas as
informações que a lei obriga que sejam publicadas. O que levanta a questão: se
não podemos saber por lei, não seria o caso de mudar essa lei?”
Numa democracia, todas as informações
relativas aos representantes que escolhemos pelo voto deveriam ser públicas.
Nada mais antidemocrático do que a existência de um “orçamento secreto” –
aberração que, sob mil disfarces, a classe política brasileira teima em manter.
Cabe aos cidadãos exigir que tais informações sejam públicas e acessíveis.
Fiscalizar é um exercício de cidadania, e você pode começar por aqui: www.cartaodatransparencia.com.
*ESCRITOR, PESQUISADOR DO OBSERVATÓRIO DA QUALIDADE DA DEMOCRACIA NA UNIVERSIDADE DE LISBOA E PROFESSOR DA FAAP
Um comentário:
Muito bom.
Postar um comentário