Se algo deu errado, mudanças profundas se
impõem. Mas para mudar é preciso que a ideia de mudança ganhe força social e
política. E para isso, o primeiro passo é consolidar a consciência de que a
transformação é necessária a partir de um diagnóstico o mais preciso possível
dos erros cometidos e dos gargalos existentes. Quais foram os motivos que nos
levaram a perder a trajetória do crescimento econômico sustentado e do
desenvolvimento social mais intenso? Vou arriscar telegraficamente algumas
linhas de explicação.
Em primeiro lugar, o baixo desempenho nos
planos estratégicos da educação e da ciência e tecnologia. A economia
contemporânea abandonou o padrão predominante de industrialização do século XX
e afirmou o império do conhecimento e da inovação. Apesar da universalização do
ensino ter ocorrido, o desempenho de nossas crianças e nossos jovens é sofrível
nas avaliações de aprendizado. E nossa capacidade de inovação tecnológica é
baixa, apesar de expressivas exceções como os exemplos exitosos da EMBRAPA
associada ao sucesso de nosso agronegócio e da EMBRAER associada ao Instituto
Tecnológico de Aeronáutico.
O segundo motivo foi a convivência, de 1980
até 1994 e seu Plano Real, com uma inflação cronicamente aguda. Inflação alta,
como dizia um grande economista da UNICAMP, transforma o orçamento público em
peça de ficção e o orçamento familiar em obra de humor negro, desorganizando a
economia e a capacidade de planejamento além de comprometer a visão de futuro.
O fantasma da inflação, volta e meia, nos ameaça, dependendo de aventuras
governamentais equivocadas.
Logo a seguir vem a crise fiscal estrutural
que se instalou. Vargas, JK e Geisel usaram todo o instrumental de política
econômica – cambial, tributário, creditício, tarifário, monetário – e a
capacidade de investimento público do Tesouro Nacional e das estatais para
promoverem a marcha forçada rumo à industrialização e a modernização da
economia. Em 2022, atingimos o menor nível de investimentos do governo federal
de toda a história. Se gastarmos tudo em salários, previdência, benefícios
sociais, custeio da máquina estatal, não sobra muito para estradas, saneamento,
portos, ferrovias, moradia popular, projetos de pesquisa, qualificação da
educação e da saúde etc.
Acabou meu espaço. Volto ao assunto no
próximo artigo.
*Economista
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