Valor Econômico
Cúpula do PL comemora que a popularidade do
ex-mandatário se mantém em patamar elevado
Com seis meses de noticiário frequente,
quase diário, sobre a investigação da Polícia Federal (PF) de um suposto
esquema de venda de joias e outros presentes destinados ao Estado brasileiro em
missões no exterior, que tem como alvo o ex-presidente Jair Bolsonaro e seu
entorno, a cúpula do PL comemora que a popularidade do ex-mandatário se mantém
em patamar elevado.
Pesquisas recentes mostram que a aprovação
de Bolsonaro caiu pouco em relação ao apoio obtido no segundo turno do pleito
presidencial, quando ele alcançou 49,1% dos votos válidos. Essa resiliência é
essencial aos planos do partido de colocar Bolsonaro, mesmo inelegível, em
campo nas eleições de 2024 e 2026, atuando como principal cabo eleitoral e
líder da oposição.
A resiliência do bolsonarismo diante da ofensiva midiática, da cobrança sistemática por esclarecimentos, do envolvimento de oficiais de alta patente do Exército, dos inúmeros depoimentos de Bolsonaro à Polícia Federal impressiona até mesmo políticos com muitas horas de voo.
A mãe de uma amiga da coluna é exemplo de
bolsonarista resiliente. Suas atitudes ajudam a traduzir um pouco da firme
disposição dos apoiadores mais convictos do ex-presidente a enfrentarem a
adversidade. Aposentada, 70 anos, ela era frequentadora do extinto acampamento
na entrada do Quartel-General do Exército. Na campanha, mudou os hábitos e
passou a assistir somente ao canal de televisão recomendado pelos
bolsonaristas. Na semana passada, quando o telejornal deste canal noticiou novo
episódio relacionado à venda ilegal dessas joias, ela se irritou. No passado,
teria apenas trocado de canal. Naquele dia, desligou a tevê.
Bolsonaro já foi intimado pelo menos seis
vezes para prestar depoimento aos agentes da Polícia Federal. Ele é alvo direta
ou indiretamente de investigações distintas, desde o suposto esquema de venda
ilegal de joias destinadas ao Estado brasileiro, passando pela organização dos
atos golpistas de 8 de janeiro, até a falsificação de cartões de vacinação
contra a covid-19. Esta última acusação mantém na prisão há mais de três meses
o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, o tenente-coronel da ativa Mauro Cid,
também envolvido na investigação sobre as joias.
Apesar de todos os holofotes voltados à
ação da PF e à apuração sobre a organização dos atos contra a democracia - duas
frentes que têm Bolsonaro como alvo - fontes do PL observam que o ex-presidente
tem comparecido a eventos onde tem sido ovacionado.
O mais recente foi no dia 28 de agosto, quando
recebeu o título de cidadão mineiro do governador Romeu Zema (Novo) em
solenidade na Assembleia Legislativa. “Conte com Minas Gerais”, disse um Zema
efusivo, de olho nos votos bolsonaristas.
Antes, na noite de 25 de agosto, Bolsonaro
foi aclamado pelo público da Festa do Peão de Barretos, no interior de São
Paulo. E em 18 agosto, foi a vez da Assembleia Legislativa de Goiás (Alego)
agraciar o ex-presidente com o título de cidadão goiano, em solenidade que
contou com a presença do governador Ronaldo Caiado (União Brasil). Três redutos
bolsonaristas, registre-se.
“Na essência, nada mudou: o antipetismo
continua presente na sociedade, mas está adormecido”, disse à coluna Felipe
Nunes, diretor da Quaest Pesquisa e Consultoria, questionado sobre o impacto de
seis meses de noticiário sobre a suposta venda ilegal das joias do acervo
presidencial sobre o bolsonarismo.
“As joias servem para desmobilizar o
público, fazê-los recuar um pouco, mas isso não desaparece com o sentimento de
derrota que se deu no ano passado”, completou Nunes. “O viés de confirmação
continua criando a sensação de sempre nas duas bolhas: quem é bolsonarista
minimiza o que aconteceu com as joias, quem é lulista maximiza”, acrescentou.
Nunes adiantou que a Quaest sairá a campo
nos próximos dias para medir, cientificamente, o percentual de resiliência do
bolsonarismo.
Em meados de junho, o Instituto Datafolha
atestou que a polarização segue estável no país: 29% dos eleitores se
declararam petistas convictos, e 25% muito bolsonaristas.
Petistas ouvidos pela coluna alertam,
entretanto, que outro levantamento do Datafolha - este mais recente - mostrou
que na cidade de São Paulo os petistas representam o dobro do eleitorado
bolsonarista, numa possível demonstração da reação do PT ao bolsonarismo: 32%
dos eleitores da capital se identificam como petistas, enquanto 15% se declaram
bolsonaristas. Estes números, entretanto, refletem um cenário que já era
observado em outubro de 2022. O petista derrotou Bolsonaro na capital paulista,
mas perdeu no interior.
Bolsonaro tem recorrido à ironia para se
defender. Em Goiânia, visitou uma joalheria, ganhou uma semi-joia de presente,
e tripudiou: disse que da última vez que ganhou um presente do tipo, “deu o
maior problema”.
Mas ri melhor quem ri por último. A preocupação
na cúpula do PL é com a investigação em torno das manifestações de 8 de
janeiro, e eventual envolvimento de Bolsonaro em um plano, com alas das Forças
Armadas, para atentar contra o Estado Democrático de Direito. Há receio de que
possível acusação nesse processo, lastreada em provas, gere consequências mais
graves, atingindo a popularidade do ex-presidente, e minando os planos de poder
do PL.
3 comentários:
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Ditadura nunca mais :! Ulisses Guimarães
■Sim! Ditaduras, nunca mais!
Nem ditadores, nem apoiadores de ditadores!
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