Folha de S. Paulo
Resta saber como Nunes, sem marca de
gestão, irá dialogar com eleitorado que rejeitou bolsonarismo
Quem
é o prefeito de São Paulo? Poucos habitantes da cidade conseguem
responder a tal pergunta prontamente e sem erros.
Ricardo Nunes, o desconhecido prefeito da
maior cidade do país, é empresário, reside na zona sul e foi diretor da
Associação Empresarial da Região Sul de São Paulo (Aesul). Eleito vereador pelo
MDB em 2012 com 30 mil votos, e reeleito em 2016 com 55 mil votos, fez parte
das bases tucana e petista na Câmara Municipal.
Vice de Bruno Covas nas eleições de 2020, Nunes afirmava à época que seguiria a mesma linha do então prefeito, que veio a falecer em maio de 2021. Contudo, Nunes se localiza bem mais à direita do prefeito tucano.
Alinhado à ala conservadora da Igreja
Católica, Nunes foi ferozmente contrário à realização de palestras escolares
sobre gênero. Em outubro de 2016, muito antes da ascensão de Bolsonaro ao
poder, o então vereador enviou um ofício à diretora Ana Elisa Siqueira, responsável
havia mais de 20 anos pela escola municipal Amorim Lima, afirmando que a
iniciativa era "ilegal", palavra que veio grafada em maiúsculas no
documento.
A ideia das palestras era discutir com os
estudantes temas como machismo, desigualdade de gênero e violência contra
mulheres. Foi suficiente para que Nunes tentasse censurar as atividades ao
requerer a "suspensão preventiva" das mesmas —"suspensão"
grafada novamente em maiúsculas— "sob pena de providências imediatas e
contundentes junto aos órgãos de fiscalização e controle, com a
responsabilização daqueles diretamente envolvidos".
A diretora da escola, no entanto, não
esmoreceu diante do ofício. As atividades programadas foram realizadas
normalmente. Inclusive, no mesmo dia em que o documento de Nunes foi recebido,
ocorreu uma palestra sobre a presença de mulheres na ciência.
Essa não havia sido a primeira investida de
Nunes em sua cruzada antigênero. Em 2015, o empresário foi diretamente
responsável por retirar do texto do Plano Municipal de Educação a menção à
ideia de gênero. Em um carro de som, o político chegou a esbravejar: "Eu
sou pela sua família, gênero não".
Ao que parece, o posicionamento de Nunes em
relação ao tema precede sua carreira política. Antes de se tornar vereador, em
fevereiro de 2011, o atual prefeito de São Paulo foi
acusado de violência doméstica pela esposa, que registrou um boletim de
ocorrência na 6ª Delegacia da Mulher, em Santo Amaro.
Na época, a esposa de Nunes, em resposta a
um pedido de que fosse cautelosa na exposição do caso, escreveu em sua rede
social: "Amiga, tenho provas de que ele sempre me bateu e sempre foi um
crápula".
A despeito disso, o casal seguiu unido, e
hoje Nunes se apresenta no Instagram como "Marido, pai, avô e gestor de
uma cidade bela e acolhedora".
Acusado
em 2021 de ter recebido dinheiro no escândalo que ficou conhecido como
"máfia das creches", Nunes irá disputar uma eleição difícil
em 2024. Sem ter uma marca relevante de gestão, para além de uma
intervenção antiquada e desastrosa na cracolândia, resta saber como irá
dialogar com um eleitorado
que já deixou clara sua rejeição ao bolsonarismo.
*Doutora em ciência política pela USP e
pesquisadora do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento
Um comentário:
Não conhecia o histórico do prefeito,bom saber.
Postar um comentário